domingo, 31 de dezembro de 2017

Cine Troppo - De 24 a 30/08/17

CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho


“Eu não sou seu negro” é um dos melhores filmes do ano
O documentário “Eu não sou seu negro” finalmente chega ao circuito exibidor local. Indicado ao “Oscar” 2017 de melhor documentário do ano, o filme é baseado no livro inacabado “Remember this House” do escritor e ativista James Baldwin, um dos líderes mais importantes na luta contra o racismo nos EUA. Nos anos 80, Baldwin escreveu uma carta para o seu agente sobre o seu mais recente projeto: terminar o livro que relata a vida e morte de alguns de seus amigos de luta anti-racial como Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Junior. Com sua morte, em 1987, o manuscrito inacabado de Baldwin foi confiado ao diretor Raoul Peck. “Eu não sou seu negro” é um trabalho importante para enriquecer debate sobre o racismo. Veja sem falta. A seguir, parte de uma entrevista do diretor realizada quando o filme foi exibido no festival de Berlim em 2016.
Gostaria de colocar ao senhor a mesma questão que Dick Cavett, apresentador de um talk show de sucesso na TV americana, faz a James Baldwin em uma entrevista no início dos anos 1960 e que abre o filme: não houve nenhum progresso nas questões raciais, não há esperança para que se dê um passo definitivo?
Baldwin diz para Dick Cavett que somos os arquitetos do futuro. Cabe a nós — incluindo os brancos, porque não somos nós, os negros, os únicos a carregar o fardo de ter que responder a isso — mudar a forma como olhamos para a questão racial. Ele diz literalmente: “Eu não inventei a escravidão, não inventei (as leis de segregação racial) Jim Crow, não inventei o racismo. Como você quer que eu lute e mude o mundo para você?”. Essas são palavras importantes e profundas. A questão de Cavett é inocente. Então, a situação está melhor e você não tem nada a ver com isso? É o que chamamos de “privilégio branco”, ou seja, você não pode se dar ao luxo de não ver o que está acontecendo do outro lado, porque você está em um lugar privilegiado. Não existem dois tipos de História, ela é a mesma para todos. Esse país, os Estados Unidos, foi construído em cima de dois genocídios, o dos índios e o da escravidão.
Baldwin não ficou tão conhecido quanto Martin Luther King Jr. ou Malcolm X, que deixaram um legado. Por que isso?
Como você pode ver no filme, ele era uma pessoa muito famosa. Nem todo mundo tem 40 minutos de entrevista no “Dick Cavett Show”, que era um dos grandes talkshows vespertinos da TV americana, em uma época na qual havia apenas três redes — ABC, NBC e CBS. E Baldwin, um homem negro, ter esse tipo de acesso era raro. Ele tinha vários amigos, não só os negros. Além de Sidney Poitier e Harry Belafonte, ele tinha uma grande amizade com Marlon Brando. Ele era uma celebridade naquela época. Acontece que as principais lideranças do movimento foram assassinadas. Não podemos esquecer disso. Não só os irmãos (John e Bob) Kennedy, mas também Martin Luther King, Malcolm X. Ninguém mais estava liderando o movimento. Pouco a pouco, criaram um monumento para Martin Luther King — por acaso, não há nenhum para Malcolm X. Isso esconde a realidade. Não podemos esquecer que Luther King, nos dois últimos anos de vida, atacou o governo por causa da Guerra do Vietnã. Ele começou a deixar a questão racial de lado e a questionar a questão de classe. A marcha sobre Washington que estavam planejando era contra a pobreza. Por isso ele ficou perigoso para o sistema. Por isso, o sistema usa apenas a imagem dele como pregador negro da não violência. Baldwin também foi deixado de lado. E não se esqueça que ele também era homossexual e havia uma certa homofobia até na liderança do movimento negro e na burguesia negra.

INDICAÇÕES

ESTREIAS
“A Torre Negra”
Filme de Nikolaj Arcel
Com Matthew McConaughey



“Bingo: O Rei das Manhãs”
Filme de Daniel Rezende
Com Vladimir Brichta

CONTINUAÇÃO
“Eu não sou seu Negro”
Filme de Raoul Peck
Cine Líbero Luxardo

BREVE
Festival de Cinema Atual Espanhol 2017
Cine Olympia
De 01 10/09/17

MEMÓRIA
“O Professor Aloprado"(1963)
Filme dirigido e interpretado por Jerry Lewis
Cartaz exibido nos cinemas americanos

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