CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho
50 anos de Cineclube
É importante celebrar os 50 anos do cineclube da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) porque o conceito da diversidade cinematográfica merece mais debate e atenção. E este cineclube é um ótimo exemplo de luta e resistência cultural. Esta semana publico para os leitores uma entrevista com a crítica de cinema e professora Luzia Miranda Álvares sobre esta celebração. Luzia foi uma das idealizadoras/participantes do cineclube da associação e tem muitas histórias para compartilhar e nos fazer pensar sobre este cineclube que esta semana completou 50 anos de atividades.
1) Quais foram as maiores dificuldades que o cineclube teve no início de suas atividades? R. Sendo uma organização cultural criada por pessoas sem vínculo institucional, sem recursos para o aluguel e a manutenção das atividades de fim de semana, a dificuldade maior foi justamente o pagamento de filmes que eram alugados em cidades de outras regiões e que também dependiam do gasto com o frete para chegar até Belém. Esses recursos vinham, inicialmente, do responsável pela coordenação da programação, Pedro Veriano. Por esse motivo, o Cine Clube da APCC passou a criar associados que pagavam uma mensalidade para assistirem as exibições semanais. Quanto aos locais de exibição, havia o fato de que eram sedes sociais e/ou auditórios necessitando de uma arrumação para que os projetores e as cadeiras para o público estivessem de acordo com o padrão dos cinemas. Dessa forma, como não havia recursos para pagar uma pessoa que se dispusesse a fazer esses encargos, a família toda ia para a luta. Quem varria, varia, quem carregava as cadeiras e organizava o salão se dispunha a deixar “um brinco” essas salas. A criançada de casa gostava desses encargos. Assim, vejo as dificuldades iniciais na ausência de recursos financeiros como o fator principal, mas não excludente das atividades dessa organização cultural.
2) Qual é a importância de um cineclube com tantos anos de atividades especialmente em Belém? R. O fator central desse cineclube foi deslocar a perspectiva padronizada de um cinema colonizado para outros âmbitos cinematográficos numa cidade que só assistia nos cinemas comerciais ao cinemão norte americano. Assim, o cineclube da APCC tornou-se o vínculo maior com o processo de descolonialidade cultural de uma geração, sem que naquele momento esse foco cultural fosse mais um modismo social.
3) Qual deve ser o principal papel de um cineclube? Formação de plateia, debates? R. Creio que levar a plateia a uma escolha de seus programas cinematográficos já fica de bom tamanho pensar a democracia cultural. Não deve ser visto como um “papel social”, mas como um meio de opção que vai gerar novos olhares e novas vozes para apoiar aquele cinema “revolucionário” que vai além do status quo. Nesse caso, a plateia tem possibilidade de mudar seu ponto de vista sobre o que é cinema e não dizer que esta arte é só para o lazer. Os cineclubes que exibem filmes temáticos são os vetores de desenvolver temas que estão claros e os que não são tão definidos para quem assiste. Se isso é formação de plateia então, nesse caso, o estimulo a exibição de filmes e ao debate se tornam um meio de formar a cultura cinematográfica para além dos iniciados.
4) Quais são suas principais memórias do cineclube da associação? R. Todos os momentos em que as dificuldades se tornavam empecilhos para a exibição de filmes necessários para criar ideias e estimular a mente com a sua linguagem diferenciada. Aprendi a gostar do cinema de Jean-Luc Godard (foto) quando o cineclube exibia os filmes desse diretor francês. Amo a estética godardiana e não abro mão de dizer que os filmes dele foram os mais revolucionários para aquele momento.
5) Quais filmes exibidos neste cineclube marcaram sua formação cinematográfica? R. Os filmes de Carlitos (Charles Chaplin), Godard, Glauber Rocha, Fellini, Bergman, Antonioni (só homens?), mais ainda as grandes diretoras que tiveram a chance de ser escolhidas para mostrar o sua arte, como Agnés Varda, Agnes Holland, Ida Lupino, Gilda de Abreu. E mais, mais, muito mais.
INDICAÇÕES
Mémórias/Cineclube da ACCPA
“Cenas de um Casamento”
Filme de Ingmar Bergman
(1973)
“Godspell”
Filme de David Greene
(1973)
“As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”
Filme de R. W. Fassbinder
(1972)
“King Kong”
Filme de Merian C. Cooper e Ernest Schoedsack
(1939)
“E O Vento Levou”
Filme de Victor Fleming
(1939)
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