CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho
A Guerra é um espetáculo?
*"Dunkirk" de Christopher Nolan impressiona mas precisa ser revisto antes de uma análise fílmica mais profunda. Do ponto de vista formal, raras vezes testemunhei um filme tão intenso na construção de cenas e narrativas. Som, fotografia, edição, música (intensa como sempre nos filmes de Nolan), entre outros elementos da linguagem cinematográfica, conquistam com impacto o espectador. Mas e depois? Roteiro, diálogos, estão na mesma intensidade? Entendo que não. O filme pretende colocar o espectador dentro da guerra como Stanley Kubrick fez em "Glória feita de Sangue" e em "Nascido para Matar", mas ao contrário de Kubrick, aqui não vejo eco na reflexão da história, da trama, do drama, do contexto. Talvez Nolan tenha exagerado no contexto formal do filme que repito, impressiona. Mas as fragilidades de "Dunkirk" certamente estão no seu conteúdo caótico (?) de questionamentos da guerra ao mostrar demais a guerra muitas vezes quase como um espetáculo (que nunca é). Experiência sensorial? "Dunkirk" certamente é, mas o que mais o filme deixará de legado além da competência de um bom diretor em criar grandes cenas? Entre poucas afirmações e mais perguntas, indico que vale a pena ver "Dunkirk", de preferência, mais de uma vez, e especialmente, numa sala de cinema. A polêmica em torno do filme é merecida. "Dunkirk" merece atenção.
*A minha admiração pela atriz Jeanne Moreau começou em "A Noite" de Michelangelo Antonioni. Não me esqueço das minhas impressões imediatas sobre ela e seu talento numa obra-prima do mestre Antonioni. Depois, como não admirá-la em tantos filmes bons onde ela brilhava como poucas atrizes? Sua estrela não deixou de brilhar. Moreau sempre será uma bela referência de talento, beleza e sensibilidade. Hoje, além de muitos fãs estarem tristes pelo seu falecimento, imagino que toda uma geração de cinéfilos estará mais triste ainda pois as grandes referências de uma época de ouro do cinema estão partindo. Mas felizmente, todos são eternos no cinema e Moreau, certamente, está na eternidade e mais um dia que a sétima arte nos permite ter.
*Sam Shepard foi um dos roteiristas de "Paris, Texas", um dos meus filmes favoritos. Como ator, lembro com respeito sua atuação em "Frances" (1982) ao lado de Jessica Lange (filme importante dos anos 80 que precisa ser "redescoberto"), "Cinzas no Paraíso" de Terrence Malick e "Os Eleitos" de Philip Kauffman. Shepard também foi cineasta, escritor, roteirista e autor de teatro e certamente foi mais uma boa referência artística que perdemos esta semana. Mas a arte o deixou imortal. Felizmente.
*É terrivelmente desagradável assistir os filmes no circuito comercial quando se programa, antes do filme, diversos trailers absolutamente iguais e "clichês" que repetem a fórmula de montagem/som/imagem/silêncio/closes/herói/vilão/narração teatralizada/violência/suspense/pausa/explosão que normalmente conquistam o público. É lamentável. Que falta de criatividade. Além disso, em alguns casos, os trailers contam toda a história do filme, logo, você nem precisa assisti-lo. O cineasta Alfred Hitchcock ainda tem muito que ensinar para aqueles que pensam que a indústria cultural pode unificar os pensamentos dos espectadores. Como diz Zé Ramalho em uma bela canção, chega de ser "admirável gado novo" para aqueles que acham que o cinema, até no trailer, deve apenas repetir formulas. Felizmente, o Cinema vai além!
INDICAÇÕES
Filme de Terrence Malick
Cine Líbero Luxardo
“Planeta dos Macacos – A Guerra”
Filme de Matt Reeves
Com Andy Serkis
“O Cidadão Ilustre”
Filme de Andreas Duprat
Com Oscar Martinez
“Ran” (1985)
Filme de Akira Kurosawa
Composição de Toru Takamitsu
MEMÓRIA
“As Quatro Faces do Medo” (1964)
“As Quatro Faces do Medo” (1964)
Filme de Masaki Kobayashi
Cartaz exibido nos cinemas
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira (Casa das Artes):
Dia 07/08 – “O Cinema de Rene Clair” – “A Nós a Liberdade” (1931). Sátira sobre dois ex-presidiários, um dos quais consegue progredir de vendedor a dono de uma fábrica, onde percebe que os operários são reduzidos a autômatos. Sessão às 19 h. Entrada franca. Debate após a exibição.
*Cine Olympia:
Até dia 09/08 – “Outsider”. Sessão às 18h30min (exceto domingo e feriado às 17h30min). Entrada franca. Apoio: Cinemateca Francesa.
*Cine Líbero Luxardo:
Até 09/08 – “O Cidadão Ilustre” (18h). Um escritor argentino e vencedor do Prêmio Nobel, volta a sua terra natal para receber o título de Cidadão Ilustre da cidade. “De Canção em Canção” de Terrence Malick (20h). Em Austin, no Texas, dois casais perseguem o sucesso através de uma paisagem de rock 'n' roll, sedução e traição.
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