domingo, 31 de dezembro de 2017

Cine Troppo - De 10 a 16/08/17

CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho


“De Canção em Canção”
O cineasta Terrence Malick é um dos mais importantes cineastas do cinema atual. Suas obras são sempre provocativas, com múltiplas narrativas, uso contínuo da câmera em torno de seus personagens, poucos cortes na montagem, utilização da música e silêncios em momentos inesperados e uma busca constante por uma poesia virtual que toque o espectador. Seu cinema não é de fácil entendimento pois exige envolvimento, imersão e atenção que não são incentivados pela grande maioria dos filmes da indústria cultural cinematográfica que insistem em banalizar o cinema como arte. Depois de muitos anos sem filme, realizou a obra prima “A Árvore da Vida” em 2011 com experiências estéticas arrojadas para contar a sua verdade como artista. Sorte do cinema que foi escolhido por Malick para  expressar seu talento.
Seu novo filme, “De Canção em Canção”, é uma continuidade de sua experiência/busca estética que pode parece mera repetição, mas que na verdade é uma exploração dos significados da imagem, palavra, silêncios e interiores de seus personagens que são diferentes em cada história que ele escolhe contar. Nesse filme, a música (canção) é elo de mudança/transformação dos personagens, mas isso não acontece conscientemente. Na verdade, a câmera-alma (como classifico) de Malick está em torno de seus personagens como testemunha, como confidente, como um registro de suas intimidades/segredos/dúvidas/questionamentos.
Em “De Canção em Canção” percebi diversos casais em busca de amor e equilibro (?) nos seus relacionamentos, mas entendo que o filme é sobre a solidão. A necessidade fundamental (?) do ser humano de não querer viver sozinho, nas diversas formas do que significa a palavra solidão, é uma das questões que o diretor faz aos seus personagens e também aos espectadores. Nessa busca, Malick troca de narrativas/ narradores diversas vezes no filme numa abordagem que pode complicar o entendimento do espectador menos atento e menos imerso no filme. Mas essa “troca” de narradores com todos os seus “fantasmas” e pontos de vista sobre a vida, o amor, as pessoas e o mundo, é que efetivamente enriquece a narrativa central do filme. As inúmeras dúvidas e perguntas que os personagens fazem para si (e para nós) surgem constantemente ligadas ao desequilíbrio de todos os personagens que, aparentemente, encontram na música (canção) alguma conexão com o mundo, seja lá qual for esse mundo. É claro que nessa narrativa, o diretor inclui sua visão da relação/equilibro do homem com a natureza como algo fundamental para a descoberta de algo que evolua a condição humana, em busca do amor ou em fuga da solidão.
Nesse sentido, “De Canção em Canção” pode até ser considerado um musical não apenas no sentido sonoro, mas também na construção de imagens. Por mais que possa parecer repetitiva sua abordagem estética, Terrence Malick insiste neste estilo/forma de filmar porque entendo que as verdades e perguntas que ele intenciona procurar/fazer no cinema ainda são enigmáticas. E certamente isso é estimulante para ele como artista e deveria ser o mesmo para nós espectadores. O cinema de Malick me interessa. Sua busca é estimulante. Sua estética é interessante. Como não admirar quem filma amores/ódios/dúvidas/angústias/certezas de seus personagens de forma poética criando imagens e sons que parecem nascer do fundo da alma daqueles que nos seus filmes não cessam de sonhar?
Ave Malick!


INDICAÇÕES
ESTREIAS
“Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”
Filme de Luc Besson
Com Clive Owen

“Malasartes e o Duelo com a Morte”
Filme de Paulo Morelli
Com Jesuíta Barbosa

“Bodybuilder”
Filme de Roschdy Zem
Cine Olympia

CINECLUBE
“Monica e o Desejo” (1953)
Filme de Ingmar Bergman
Cine Líbero Luxardo – Dia 19/10 – 15 h

 MEMÓRIA
“Retratos da Vida” (1980)
Filme de Claude Lelouch
Cartaz exibido nos cinemas nos anos 80

AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira (Casa das Artes):
Dia 21 - O Cinema de Rene Clair: “O Tempo é uma Ilusão” (1944). Sessão às 19 h. Entrada franca e debate após a exibição.
*Cine Olympia:
Até Dia 23 – “Bodybuilder” de Roschdy Zem. Sessão às 18h30min (exceto domingos e feriados às 17h30min). Entrada franca. Apoio: Cinemateca Francesa.
Dia 15 – Projeto CINEMA E MÚSICA: “A Última Gargalhada” (1924) de F. W. Murnau. Sessão às 17h30min. Acompanhamento musical ao vivo com Paulo José Campos de Melo.
*Cine Líbero Luxardo:
Até dia 16: “De Canção em Canção” de Terrence Malick e “O Cidadão Ilustre”.


Nenhum comentário:

Coluna Cineclube - Dia 29/01/23