sexta-feira, 12 de agosto de 2011

FESTIVAL DE GRAMADO - 08

Já estamos na reta final doa 39º edição do Festival de Gramado. Ontem, quinta-feira, dia 11, foram exibidos na mostra competitiva de curtas-metragens, os filmes “Julie, Agosto e Setembro”, “Ribeirinhos do Asfalto”, “O Cão” e “Rivelino”. Todos bons curtas que de alguma forma tocaram o público. “Julie, Agosto e Setembro” é um filme feito ao estilo europeu., com uma linguagem que lembra os filmes de Truffaut, mostrando uma personagem em busca do amor e de sua identidade. “Ribeirinhos do Asfalto” é o novo trabalho de Jorane Castro, que aqui, representou bem o cinema paraense com uma história muito comum da nossa região mais que ao mesmo tempo é universal: uma família que mora na ilha de Combú, vem normalmente à Belém para vender coisas da ilha e a mãe decide (contrariando o pai) deixar a filha para morar com a prima, numa tentativa de dar um futuro melhor para ela. Bem produzido, com ótima atuações de Dira Paes e Adriano Barroso, o filme impressionou o público. Jorane mostra Belém de forma diferenciada, real, como selva de pedra em contrapartida com a ilha onde os personagens moravam. O final aberto/enigmático dos personagens, incomodou alguns críticos mais vejo que a opção da diretora foi acertada e significativa, dentro do mundo complexo que cerca os personagens. Afinal, o filme agradou o público. “O Cão” é um bom retrato sobre a indiferença, a banalidade das relações, a incomunicabilidade do ser humano através de uma história bem simples : um cão fica latindo e incomodando todos de um bairro e sem que ninguém queira saber o porquê, acaba sendo morto. O final surpreende e provoca discussões. Bom filme que merece ser visto. “Rivellino” tem uma boa idéia baseada levemente no filme “Cabo do Mêdo” : um ex-presidiário sai da cadeia e vai procurar o promotor que o prendeu. Numa viagem de ônibus, ele encontra o promotor, ameaça de morte, fala de seu ressentimento mais de repente, o jogador Rivellino entra no ônibus e tudo muda. Os inimigos viram amigos. Ambos são corintianos, admiram o jogador, tem memórias dele e o que poderia ser tornar um crime, acaba virando um momento de encontro e admiração ao jogador. Mas o filme é mal construído, com atuações muito fracas e com uma conclusão muito simplista, quase que constrangedora. Vale pela presença do jogador, mas fica claro que nesse filmes, assim como em outros do festival, a questão da construção e desenvolvimento dos roteiros é um fator limitante. Boas idéias surgem mais o desenvolvimento destas idéias, cinematograficamente falando, acaba sendo inferior. Essa é uma questão que deve ser discutida e melhorada pelo cinema brasileiro nos próximos anos.
Na mostra competitiva de longa-metragem, a noite começou com o filme “Garcia” (foto) de José Luís Rugeles, uma co-produção Colômbia/Brasil com atores colombianos e brasileiros numa história emotiva de Garcia, um homem simples que quer comprar uma nova casa para sua mulher para iniciar uma nova vida. Mas sua esposa quer mais e Garcia é um homem metódico, simples, pouco ambicioso, que não agrada a sua mulher que busca um outro relacionamento. No meio disso tudo, o filme ganha um tom policialesco e cômico que às vezes causa um estranhamento no espectador. Mesmo assim, o filme constrói ótimos personagens e belas cenas. Garcia é um personagem quase Chapliniano, simples e ingênuo, mas que no final aprende a se reconstruir depois de viver traições e desenganos. “Garcia” é um bom filme que espero seja lançado no Brasil em breve.
A última exibição da noite foi de “O Carteiro”, filme de Reginaldo Farias que não dirige um filme há 27 anos. Farias tem um histórico respeitável no cinema brasileiro. Gosto muito de “Barra Pesada”(1977) e neste novo trabalho ele quis colocar elementos da comédia italiana procurando fazer um filme leve, simples e que tocasse o espectador. O filme mostra a história de um carteiro de uma cidade do interior que fica sabendo de tudo que acontece na cidade ao abrir as cartas antes de entregá-las. Do bem, ele faz isso para ajudar. Mas quando chega uma jovem na cidade, ele se apaixona e a sua brincadeira vai ficando mais séria na medida que ele sabe que a jovem tem um namorado que sempre lhe escreve cartas. O problema, é que depois de um certo tempo de filme, o tom de comédia leve e quase romântica cai em situações sem criatividade e repetitivas, aparecendo personagens sem muita contribuição à história e em determinados momentos, o tom cômico fica quase ridículo (como o personagem do delegado). O resultado final é aquém do que a história poderia render. Farias é um nome importante no cinema brasileiro e é claro que mesmo que seu novo filme como diretor (depois de 27 anos) não seja o esperado, é importante que ele retorne na função de diretor para poder contribuir com este novo momento do cinema brasileiro.

Veja a programação do festival de hoje :
MOSTRA PANORAMICA
17h – O mar de Mário, de Reginaldo Gontijo e Fernando Suffiati 73' Livre
MOSTRA COMPETITIVA
19h – Jean Gentil, de Laura A. Guzmán e Israel Cárdenas – 84' – 14 anos
21h - Filme de ENCERRAMENTO SUDOESTE, de Eduardo Nunes – 128' – 14 anos

Amanhã, é o dia da entrega dos prêmios do Júri da Crítica e do Júri Oficial, numa cerimônia aguardada com ansiedade pelos diretores e produtores que aqui estão. De qualquer forma, a 39º edição do Festival de Gramado já deixa a impressão de exemplo de organização e planejamento, com exibição de filmes, palestras e coletivas que enriquecem quem está aqui cobrindo o festival jornalisticamente ou mesmo apenas como cinemaníaco. Como um festival de tradição do cinema brasileiro, o festival de Gramado realmente merece toda a atenção e carinho de quem faz e gosta de cinema no Brasil.

Marco Antonio Moreira - diretor do Festival de Gramado/RS



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