
Na mostra competitiva de longa-metragem, a noite começou com o filme “Garcia” (foto) de José Luís Rugeles, uma co-produção Colômbia/Brasil com atores colombianos e brasileiros numa história emotiva de Garcia, um homem simples que quer comprar uma nova casa para sua mulher para iniciar uma nova vida. Mas sua esposa quer mais e Garcia é um homem metódico, simples, pouco ambicioso, que não agrada a sua mulher que busca um outro relacionamento. No meio disso tudo, o filme ganha um tom policialesco e cômico que às vezes causa um estranhamento no espectador. Mesmo assim, o filme constrói ótimos personagens e belas cenas. Garcia é um personagem quase Chapliniano, simples e ingênuo, mas que no final aprende a se reconstruir depois de viver traições e desenganos. “Garcia” é um bom filme que espero seja lançado no Brasil em breve.
A última exibição da noite foi de “O Carteiro”, filme de Reginaldo Farias que não dirige um filme há 27 anos. Farias tem um histórico respeitável no cinema brasileiro. Gosto muito de “Barra Pesada”(1977) e neste novo trabalho ele quis colocar elementos da comédia italiana procurando fazer um filme leve, simples e que tocasse o espectador. O filme mostra a história de um carteiro de uma cidade do interior que fica sabendo de tudo que acontece na cidade ao abrir as cartas antes de entregá-las. Do bem, ele faz isso para ajudar. Mas quando chega uma jovem na cidade, ele se apaixona e a sua brincadeira vai ficando mais séria na medida que ele sabe que a jovem tem um namorado que sempre lhe escreve cartas. O problema, é que depois de um certo tempo de filme, o tom de comédia leve e quase romântica cai em situações sem criatividade e repetitivas, aparecendo personagens sem muita contribuição à história e em determinados momentos, o tom cômico fica quase ridículo (como o personagem do delegado). O resultado final é aquém do que a história poderia render. Farias é um nome importante no cinema brasileiro e é claro que mesmo que seu novo filme como diretor (depois de 27 anos) não seja o esperado, é importante que ele retorne na função de diretor para poder contribuir com este novo momento do cinema brasileiro.
Veja a programação do festival de hoje :
MOSTRA PANORAMICA
17h – O mar de Mário, de Reginaldo Gontijo e Fernando Suffiati 73' Livre
MOSTRA COMPETITIVA
19h – Jean Gentil, de Laura A. Guzmán e Israel Cárdenas – 84' – 14 anos
21h - Filme de ENCERRAMENTO SUDOESTE, de Eduardo Nunes – 128' – 14 anos
Amanhã, é o dia da entrega dos prêmios do Júri da Crítica e do Júri Oficial, numa cerimônia aguardada com ansiedade pelos diretores e produtores que aqui estão. De qualquer forma, a 39º edição do Festival de Gramado já deixa a impressão de exemplo de organização e planejamento, com exibição de filmes, palestras e coletivas que enriquecem quem está aqui cobrindo o festival jornalisticamente ou mesmo apenas como cinemaníaco. Como um festival de tradição do cinema brasileiro, o festival de Gramado realmente merece toda a atenção e carinho de quem faz e gosta de cinema no Brasil.
Marco Antonio Moreira - diretor do Festival de Gramado/RS
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