domingo, 7 de agosto de 2011

FESTIVAL DE GRAMADO - 03

O Festival de Gramado continuou no segundo dia de exibições com a mostra competiva (Dia 06) e a exibição de dois filmes : "Medianeras Buenos Aires na era do Amor Virtual", produção argentina de de Gustavo Taretto e "Ponto Final", filme nacional de Marcelo Taranto.
"Medianeras Buenos Aires na era do Amor Virtual" (foto) é uma interessante comédia romântica que tem um linguagem jovem, moderna e um roteiro muito inteligente que conquista o espectador imediatamente. Mais do que ser inteligente, o roteiro é repleto de idéias interessantes sobre Buenos Aires e seus habitantes, que vão surgindo na tela de forma rápida, densa, poética. Os primeiros quinze minutos do filme são fantásticos quando vemos uma série de cenas da cidade com uma montagem bem elaborada sobreposta com uma narração dinâmica e crítica ao mesmo tempo numa declaração de amor e morte à cidade. A história do filme começa pela cidade e depois se concentra na vida de dois jovens, um homem e mulher que tem vidas parecidas: dificuldades na vida amorosa, facilidades na vida virtual, dúvidas e críticas sobre tudo e todos. Estes dois personagens sofrem de um isolamento social e lentamente, seus caminhos vão se convergindo para um futuro encontro. Prevísivel mas muitas vezes brilhante, o filme revela que é possível fazer o que chamamos de comédia romântica com inteligência, respeitando o espectador com idéias interessantes, saindo do lugar comum e ao mesmo tempo usando com brilhantismo a narrrativa dos filmes do genêro. O público aplaudiu muito o filme e até o momento foi o filme que mais teve repercussão positiva entre boa parte da crítica e o público.
Já "Ponto Final" não empolgou. Foi admirável o esforço do diretor em fazer um filme complexo que envolve a história de um pai que perde sua filha na rua devido a uma bala perdida. Mas a forma como foi construído este drama, apesar de ser interessante, não convence ou emociona. Marcelo Taranto colocou os personagens vivenciando seus dramas, recitando frases prevísiveis e caindo em clichês que absolutamente não contribuem com o desenvolvimento do filme. O surgimento de cenas surreais, como o motorista de ônibus que eventualmente olha para camêra para falar alguma frase feita ou dar algum aviso ou conselho espiritual, enfraquece demais o filme. Do meio do filme em diante, o drama dos personagens em nenhum momento consegue emocionar. Em certos momentos, o filme vira teatro filmado com atores declamando um texto desconexo que em determinados momentos são absolutamente constrangedores. No final, percebe-se que a boa intenção do filme, do projeto (que durou 5 anos para ser concluído), se perdeu no meio do caminho. A edição do filme não ajuda, os atores se esforçam, mas o roteiro me pareceu já nascer velho, datado. A intenção fica mas o resultado, infelizmente, foi aquém. Uma pena.

Veja a programação do festival para hoje, domingo, dia 07/08:

MOSTRA PANORAMICA

17h - Carne, Osso, Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros – 65' - 16 anos
18h45min- Homenagem a Gustavo Dahl e Clóvis Duarte

MOSTRA COMPETITIVA
19h A tiro de piedra, de Sebastián Hiriati – 118' – Livre
21h Uma longa viagem, de Lúcia Murat – 97' – 16 anos

Na coletiva do filme "Riscado", conversei longamente com o diretor Gustavo Pizzi que demonstrou ser um realizador ciente do que quer fazer no cinema. Ele espera que "Riscado" tenha uma boa carreira nos cinemas mas sabe que o tema e a narrativa do filme não é necessariamente para o grande público. De qualquer forma, ele tem vários projetos e deve começar em breve uma nova produção.
Participei do debate sobre a possível volta da censura, no sabádo, ação promovida pela ABRACCINE (Associação Brasileira dos Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul). Muitos questionamentos e opiniões surgiram num encontro que durou quase 3 horas. O tema principal, a proibição do filme "A Serbian Film" (que já ganhou classificação etária e deverá ser lançado em breve nos cinemas brasilerios menos no RJ devido a uma liminar judicial) foi apenas um ponto de partida para se discutir a liberdade de expressão, a liberdade de pensamento, a necessidade de políticas educacionais melhores por parte do governo e principalmente, a importância do Brasil não voltar atrás no que se refere a possível volta de mecanismos proibitivos que possam ser usados por entidades, associações, partidos políticos em nome da valores muito particulares e que não pode ser usados como forma de limitação da expressão artística. Durante o debate, coloquei várias questões sobre o tema incluindo a proibição de determinados filmes no Acre e no interior do estado do Pará que não foram divulgados pela mídia nacional, que não tiveram a repercussão de "A Serbian Film" (que certamente não merecia toda esta divulgação) e que revela que o Brasil é um país grande demais, inclusive para a própria imprensa que muitas vezes não dá a menor importância para fatos e situações que acontecem nas regiões Norte e Nordeste.É claro que o debate não encerrou o tema mas algumas posições e opiniões foram importantes e espero que haja uma repercussão significativa sobre o encontro.
Chegando no terceiro dia do festival, percebo que a cidade de Gramado está mais cheia. Continua chegando muita gente para acompanhar o festival. Artista e celebridadades começam a aparecer mais, provocando interesse do público. Isso é bom. Mas vamos aos filmes, que é o que interessa realmente. Depois da expectativa de "Ponto Final", mal sucedida, vamos à programação de hoje que tem o documentário "Uma Longa Viagem" e Lúcia Murat, já exibido no festival de Paulínia e que deve agradar o público aqui.

Marco Antonio Moreira, direto do Festival de Gramado/RS

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