CINE TROPPO
Marco Antonio
Moreira Carvalho
O
cinema humanista de Ken Loach
"Eu, Daniel Blake" é um filme que busca a
realidade sem delírios ou ilusionismos formais ou visuais. A história de Daniel
Blake é a mesma de diversos personagens reais que trabalham, produzem e geram
"lucros" para empresas e/ou estado, mas que buscam pelos seus
direitos sem encontrá-los no momento em que não "servem" mais para o sistema.
Filmado com simplicidade com claras influências do cinema neo-realista italiano
(que evidenciava filmagens em locações reais com luz natural e histórias do dia
a dia do povo italiano como em “Ladrões de Bicicleta” de Vittorio De Sicca),
"Eu, Daniel Blake" nos lembra de um humanismo que muitas vezes está
ausente de muitas produções no cinema atual. Entendo que o cinema como arte
deve registrar com mais frequência este aspecto. Loach, com sensibilidade, realizou
um belo e amargo trabalho que merece diversas análises fílmicas.
O filme nos mostra a história de
Daniel Blake (ótima atuação de Dave Johns),vivúvo de 50 anos que diagnosticado
com um grave problema de coração, tem indicação médica para deixar de
trabalhar. Mas quando tenta receber os benefícios do Estado que lhe concedam
uma forma de subsistência, enfrenta forte burocracia que muitas vezes é
constrangedora e injusta. Ele tenta provar a sua incapacidade, mas não consegue
respeito e solidariedade do aparelho estatal. Durante uma espera numa
repartição da Segurança Social, Blake conhece Katie (Hayley Squires), uma mãe
solteira de duas crianças que precisa de auxílio financeiro. Ambos acabam se
aproximando pelas dificuldades e tentam encontrar esperanças.
“Eu, Daniel Blake” pode parecer um
filme prevísivel na sua narrativa e desfecho, mas entendo que o que acontece
com este e outros personagens que lutam pela sua sobrevivência é prevísivel
também, pois atos de injustiça e desprezo acontecem todos os dias nas filas e
instituições públicas. Prevísivel, mas realista? Sim. Óbvio talvez em algumas
conclusões, mas realista? Sim. No final, amargo e real, percebemos que Blake
perde sua luta, seus direitos. E no dia seguinte, tudo continua. As injustiças,
a falta de solidariedade, a falta de direitos, a falta de humanismo, a falta de
respeito. “Eu, Daniel Blake” provoca reflexões e emoções. Vencedor da Palma de
Ouro na edição de 2016 do Festival de Cinema de Cannes é um filme digno da
carreira de Kenneth Loach, cineasta com uma filmografia que apresenta fortes
contextos políticos, sociais e comportamentais como em “Vida em Família” (1972)
e “Ventos da Liberdade” (2006). Assista a seu novo filme e procure conhecer sua
obra. Ken Loach merece nossa atenção.
*A
próxima ação do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) acontecerá no dia
28/03 na Casa das Artes com palestra da professora e crítica de cinema Luzia
Miranda Álvares sobre a Mulher e a forma como é/foi representada no Cinema. “De Branca de Neve às Vadias:
Imagens da Mulher no Cinema” terá Inscrições
gratuitas que poderão ser realizadas no local da palestra.
INDICAÇÕES
ESTREIAS
“Neruda”
Filme
de Pablo Larrain
Cine Líbero
Luxardo
“Fragmentado”
Filme
de M. Night
Com James
McAvoy
PALESTRA
“De Branca
de Neve às Vadias: Imagens da Mulher no Cinema”
Palestra
da professora Luzia Miranda Álvares
Centro
de Estudos Cinematográficos (Casa das Artes) – Dia 28/03
CINECLUBE
“O
Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1969)
Filme
de Glauber Rocha
Cineclube
Alexandrino Moreira - Dia 27/03
MEMÓRIA
“A Fraternidade
é Vermelha” (1995)
Filme
de K. Kieslowski
Cartaz
exibido nos cinemas franceses nos anos 90
AGENDA
*Cineclube Alexandrino
Moreira:
Dia 27/03
– O Cinema de Glauber Rocha: “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1969).
Sessão às 19h. Entrada franca.
*Cine Olympia:
Até dia 28/03 – “Semana Francofonia”.
Exibição de filmes falados em francês. Sessão às 18h30min (exceto domingo às
17h30min). Entrada franca.
*Cine Líbero Luxardo:
Até dia 26/03– “Neruda”
e “Eu, Daniel Blake”.
*Cineclube da Casa da Linguagem:
Dia 30/03 – “Gravidade” de Alfonso Cuarón. Sessão às 18h. Entrada
franca.
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