CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho
Ações cineclubistas incentivam debates sobre o Cinema
A exibição de filmes em cineclubes tem um processo democrático de debate de ideias a partir da interação do espectador com a obra escolhida. Desde os anos 20, com Louis Delluc, esse processo tem evoluído e criado inúmeras possibilidades sobre a interpretação dos filmes considerando o ato de ouvir/falar no debate como meio de aprendizado para todos os envolvidos. Tenho participado de vários debates em cineclubes há anos e percebo que o número reduzido de público para estas ações culturais não eliminou o interesse a participação de muitos cinéfilos que tem muito que ensinar/aprender sobre o ato da analisar/interpretar um filme. Recentemente, a exibição de alguns filmes muito especiais gerou ótimos momentos de aprendizado com “Testa de Ferro por Acaso” de Martin Ritt, “Zabriskie Point” e “Deserto Vermelho” de Michelangelo Antonioni, “Nashville”(foto) de Robert Altman e “O Grande Êxtase do Escultor Steiner”/”Terra do Silêncio e da Escuridão” de Werner Herzog. Filmes profundos com temáticas diferentes e que após sua exibição, provocaram reações interessantes do público que muitas vezes entendia estes trabalhos como uma forma de observar/criticar a sua realidade interior (pessoal) ou exterior (bairro, cidade, país, mundo). É evidente que a análise fílmica tem vários caminhos a partir do que é mostrado/interpretado pelo diretor/autor, mas é inevitável que o espectador/receptor desta obra tenha a liberdade de realizar observações diferentes. “Testa de Ferro por Acaso” tem história baseada no período da perseguição aos comunistas nos anos 50 nos EUA. Mas como não vibrar com o final do filme quando o personagem de Woody Allen se rebela contra uma comissão de inquérito sem levar em consideração as questões políticas de hoje? “Zabriskie Point” conta uma história de um período (final dos anos 60) onde as utopias moviam novas gerações a lutar pelos seus direitos. Como não fazer uma relação direta com o momento em que vivemos onde as utopias voltaram a ser necessárias? “O Grande Êxtase do Escultor Steiner” mostra a história de um esportista que luta contra seus medos e consegue vitórias improváveis. Como não se espelhar neste personagem real para enfrentar os desafios pessoais? “Terra do Silêncio e da Escuridão” mostra uma personagem cega e surda que resolve ajudar as pessoas que, como ela, vive na “terra do silêncio e da escuridão” alheias do mundo mas que precisam de força, carinho e atenção. Como não perceber tanta humanidade e compaixão nesta personagem e não se sentir emocionado com a falta de humanidade que somos testemunhas diariamente?”Deserto Vermelho” tem uma personagem perdida numa vida urbana sem objetivos e tenta se encontrar/adaptar no mundo que vive. Como não perceber/entender esse drama que pode ser de muitas pessoas “reais”? “Nashville” apresenta vários personagens que são “unidos” pela música, mas são individualistas e tentam entender/sobreviver num sistema que não valoriza o individuo, mas sim um coletivo de interesses (políticos, comerciais, etc). Como não relacionar isso com a forma como o mundo globalizado se impõem a todos? O cinema reflete a vida. A arte vai além da vida. A força do cinema é imensa e podemos/devemos ir além das temáticas fílmicas para tentar entender os mundos que nos cercam. Essa é uma das grandes virtudes do debate, da troca de ideias. Ouvir, falar, contribuir, evoluir. O Cinema agradece!
INDICAÇÕES
ESTREIAS
“Aliados”
Filme de Robert Zemekis
Com Marion Cottilard, Brad Pitt
“A Criada”
Filme de Park Chan-Wook
Cine Líbero Luxardo
PALESTRA
“O Cinema de Reinvenção de Brian de Palma”
(mesmo diretor de “Scarface” e “Carrie a Estranha”)
Centro de Estudos Cinematográficos (Casa das Artes) – Dia 21/02
CINECLUBE
“Farenheit 451”(1966)
Filme de François Truffaut
Cineclube da Casa da Linguagem – Dia 23/02
MEMÓRIA
“O Enigma de Kaspar Hauser”(1975)
Filme de Werner Herzog
Cartaz exibido nos cinemas americanos nos anos 70
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira:
Dia 06/03 – O Cinema de Werner Herzog: “Encontros no Fim do Mundo”. Sessão às 19h. Entrada franca e debate após a exibição.
*Cine Olympia:
Até dia 19/02 – “Deboche”. Documentário sobre o cantor Walter Bandeira. Sessão às 18h30min (exceto domingo às 17h30min). Entrada franca.
De 22 a 25/02 – Mostra de Filmes de Carnaval.
*Cine Líbero Luxardo:
Até dia 19/02 – Dia 19/02 – “O Apartamento” e “A Criada”.
*Cineclube da Casa da Linguagem (Oficinas Curro Velho)
Dia 23/02 – “Farenheit 451” de François Truffaut. Sessão às 18h. Entrada franca.
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