domingo, 21 de junho de 2015

CINE TROPPO - SEMANA DE 09 A 15/04/15

Cine Troppo
Marco Antonio Moreira Carvalho


VAMOS PARA ANDARA?
O cinema Olympia exibe até hoje, mostra de filmes realizados pelo cineasta/escritor/crítico de cinema Vicente Cecim. Fã de Jean-Luc Godard, entre outros diretores, Cecim é um mestre e entende de cinema como poucos que conheço. Para evidenciar a importância dessa mostra, realizei uma pequena/grande entrevista e mais uma vez, ele revelou-se como um artista que acredita na sua arte e na transformação da arte na vida e das pessoas. Ave Cecim!

O que te motivou a fazer filmes?
R - O que me motivou a fazer filme e me levou ao Cinema foi a mesma coisa que me motivou a escrever livros e me levou à Literatura: o desejo, a necessidade, a urgência de compreender a Vida e mudar o mundo. A criança retraída que eu fui ocupava um posto de observação privilegiado – o ocupado em alguns filmes em que tudo é visto pelos olhos de uma criança – como que fora dos acontecimentos. Os acontecimentos eram vividos pelas pessoas ao meu redor, mas, por mim, eram essencialmente observados. E eu via muitas coisas erradas, deformadas, mal-entendidos na relação das pessoas umas com as outras, e na sociedade como um todo. O Cinema é um meio de perfuração objetiva do exterior que desvenda & revela o que se oculta sob as aparências – me servia. A Literatura é um meio de sondagem subjetiva do interior que mergulha em realidades humanas profundas, que se ocultam do próprio ser humano – também me servia. Considerando que Literatura & Cinema são artes & poéticas comprometidas com o lúdico, não com a afirmação de verdades, como a Filosofia e a Ciência, nem com a especulação só comprometida com a chamada fé, das Religiões – tudo o que eu precisava como extensões de meu corpo e minha mente achei nos dois. E assim passei a escrever e filmar com a má intenção de ‘mudar a vida’, como queria Rimbaud, que dizia não bastar apenas ‘transformar o mundo’.

Qual é o tipo de cinema que fazes e ainda queres fazer?
R  - Uma das formas de desvelar as realidades consideradas concretas que se apresentam aos nossos olhos, na vida vivida, é trans-figurá-las através da Arte. Então vejo o cinema que eu faço nascendo de uma relação muito íntima com o Imanente – por isso quase todos os meus filmes tem uma base documental – que gradualmente, ao longo do filme, vai se expandindo em direção ao Transcendente. Digamos que faço um cinema assim: - O Olho da Câmera que começa aberto sobre as realidades vai se entrecerrando e passa a sonhar essas realidades. O documento se transfigura em alegoria.

O que o público pode esperar assistindo teus trabalhos?
R - Liberdade para ver, através do que eu vi e neles mostro, o que quiser ou puder ver. Os filmes KinemAndara – assim chamados porque interagem com os livros visível de "Viagem a Andara", o livro invisível que escrevo – são esotericamente fechados em si para se abrirem exotericamente a livre percepção de cada pessoa que se posta diante deles com sua visão de mundo particular.

Quais tuas influências no cinema, como realizador e crítico?
R - Não me sinto ‘influenciado’ – me sinto irmanado, como pessoa, criador e crítico, com criadores muito pessoais entre si como o onírico Buñuel, os sagrados Bresson e Tarkovski, os sensíveis Antonioni e Mário Peixoto, os barrocos Welles e Glauber, o sentimental Fellini, o místico Dreyer, o zen Ozu, o alegórico Herzog, o inocente Dovjenko, o rebelde Pasolini, o inventivo Abel Gance, o esteta Kurosawa, o perscrutador Mizoguchi, o insaciável Godard, o rigoroso Resnais, os delirantes Todorovski e Linch. Há outros, não citados, mas não esquecidos. Se algumas vezes posso parecer com alguns deles, não é para me apossar e sim para reafirmar & propagar seu modo de filmar. 

Quais cineastas do cinema moderno te agradam como cineasta e crítico de cinema?
R - Há antigos modernos & modernos antigos. Melhor não responder essa pergunta falando das minhas preferências - melhor chamar a atenção das pessoas para o Futuro: a rica variedade inventiva e antropológica de um Cinema Novo que passou a emergir - e poder se mostrar, através da globalização planetária - dos continentes ocultos chamados Terceiro Mundo: Ásia e Oriente Médio sobretudo, mas não apenas. São criadores com nomes desconhecidos que devemos memorizar para buscá-los nos guetos – cineclubes - onde não são discriminados pelo negócio do cinema, ou cinema como negócio.

ESTREIA
“Elles”
Filme de Malgorzata Szumowska
Com Juliet Binoche

CINEMA E MÚSICA
“Os 10 Mandamentos”
Versão de 1925 com acompanhamento musical ao vivo
Dia 15/04 no cine Olympia

BREVE
“Ida”
Vencedor do “Oscar” de melhor filme estrangeiro
A partir do dia 15/04 - Cine Líbero Luxardo

DVD
“The Billie Holiday: The Ultimate Collection”
Documentário musical sobre a carreira da grande cantora Billie Holliday

COTAÇÕES
“Dominguinhos” (DVD) – Muito Bom
“Glória” de John Cassavetes – Muito Bom
“A Dália Azul” com Alan Ladd – Muito Bom 
“Relatos Selvagens” com Ricardo Darín - Excelente

AGENDA
*Cine Olympia:
De 10 a 12/04 – Mostra Vicente Cecim. Exibição de curtas e médias metragens do cineasta, escritor e crítico de cinema Vicente Cecim. Sessão às 18:30 h . Entrada Franca. Dia 14/04 – Projeto Cinema e Música com a exibição de “Os 10 Mandamentos”, versão de 1925. Acompanhamento musical ao vivo com Paulo José Campos de Melo. Entrada Franca. De 15 a 23/04 – Mostra Silvio Tendler com exibição de “Jango”, “Os Anos JK” entre outros títulos.

*Cine Líbero Luxardo:
Até dia 12/04 – "Relatos Selvagens”. Produção argentina indicada ao “Oscar”. Diante de uma realidade crua e imprevisível, os personagens deste filme caminham sobre a linha tênue que separa a civilização da barbárie. Uma traição amorosa, o retorno do passado, uma tragédia ou mesmo a violência de um pequeno detalhe cotidiano são capazes de empurrar estes personagens para um lugar fora de controle.

*Cine Estação:
De 08 a 19/04 – “Elles” de Malgorzata Szumowska. Anne, uma jornalista da famosa revista Elle, está escrevendo um artigo sobre prostituição entre estudantes universitárias. O filme mostra a vida das duas garotas de programa, Alicja e Charlotte, e da rotina de outra mulher, enquanto mãe, dona de casa, esposa, profissional, seus hormônios e desejos.

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