sábado, 2 de março de 2013

CINE TROPPO - SEMANA DE 01 À 07/03/13

CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira

Crítica/ “O SOM AO REDOR”

Um país, uma cidade, uma rua, vários personagens e uma ilusão de harmonia, de paz e de tranquilidade que não existe. Não pode existir. Não tem como existir. Afinal, as diferenças sociais, pessoais, de poder e de pobreza estão no dia a dia, nas coisas, no som das coisas e pesssoas e principalmente, nos silêncios de tudo e todos. E é sobre estes “silêncios” que Kleber Mendonça fez “O Som ao Redor”, um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos. O filme mostra a rotina de personagens de uma rua de Recife que vivem sob o regime da apatia, da indiferença, do ódio, da incomunicabilidade e da infelicidade. Alguns personagens tem o poder econômico. Outros, o poder da raiva e da revolta demonstrados a qualquer momento. Cada personagem é construído no filme com o mínimo de informação ao espectador mas como Kleber Mendonça filma sua história, nada mais é preciso para entendermos o universo que cada um vive. Raras vezes vi um diretor filmar tão bem seus personagens, sua ambientação, seu exterior e principalmente seu interior. “O Som ao Redor” é um filme sobre o silêncio de cada um dos personagens sobre este mundo em que vivem. Silêncio este que cria um sentido de anarquia que pode explodir a qualquer instante,seja numa reunião de condomínio, seja durante uma festa do “dono” da rua, seja num telefonema. E é com esta ambientação que o filme se desenvolve brilhantemente. Com influência de vários estilos e escolas de cinema, inclusive do cinema novo brasileiro, podemos encontrar em “O Som ao Redor” a realidade brasileira (?) exposta na veia, no coração, sem filtros, sem misericórdia. Por isso, o filme tem um clima mágico, estranho. Porque é realista, duro e não desvia o seu olhar do que está registrando. O cinema é fantasia? “O Som ao Redor” é sobre a realidade, nua e crua. Oportuno em registrar os conflitos diários do nosso dia a dia social, o filme de Kleber Mendonça vai além. Desperta no espectador um sentimento de choque, de realidade, de surpresa, de tristeza com o que vê através dos acontecimentos desta rua que é de Recife e pode/deve ser de qualquer cidade/país. Ao sair do cinema, o que fazer com tanta informação, emoção, realidade muitas vezes escondida através da mídia, do mundo virtual, do mundo áudio-visual? Kleber Mendonça certamente não deu respostas para essa questões mais deixou em cada espectador um rastro de pensamento e reflexão como há muito tempo não se faz no cinema brasileiro. Sem mais palavras para definir a dimensão deste grande filme, sugiro apenas que quem puder ver “O Som ao Redor” que veja logo pois o filme sai de cartaz do nosso circuito neste domingo.

ESTRÉIAS DA SEMANA

“Era Uma Vez Eu, Verônica” de Marcelo Gomes
“Dezesseis Luas”
“Amanhecer Violento”

AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 09/03, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “Poesia” de Lee Chag-Dong. O filme ganhou o prêmio de melhor roteiro no festival de Cannes de 2011 e será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Hoje (domingo) é o último dia da mostra de filmes em homenagem a atriz Bette Davis com a exibição de “O Que terá Acontecido com Baby Jane?” de Robert Aldrich às 18: 30h. Davis tem uma atuação antológica ao lado de Joan Crawford.Na sessão Cinemateca, hoje às 16h, será exibido o drama “A Carta”, dentro da mostra de Bette Davis. A partir do dia 05/03, será exibido uma mostra de filmes em homenagem a semana internacional da mulher em parceria com o GEPEM (UFPa). Entre os títulos que serão exibidos, "Quem Bom te Ver Viva" de Lúcia Murat. Entrada Franca.

*Cine Líbero Luxardo: Dois filmes nacionais de grande qualidade estão em exibição: “Era Uma Vez, Eu, Verônica” de Marcelo Gomes (cineasta de “Cinema, Aspirinas e Urubus”) e “O Som ao Redor” (em exibição até domingo às 16:30 h), excelente filme de Kleber Mendonça Filho que está sendo considerado com um dos grandes filmes nacionais dos últimos anos. O filme mostra a rotina de uma rua de classe-média na zona Sul do Recife que toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece paz de espírito e segurança particular.
*Cine Estação : “”Amor” de Michael Haneke volta a ser exibido em nosso circuito, felizmente. Vencedor de vários prêmios internacionais incluindo o “César” e mais recentemente o “Oscar” de melhor filme estrangeiro, o filme conta a história de um casal de idosos que tem que enfrentar mudanças na sua vida, especialmente quando um deles fica doente. Com excelentes atuações de Emmanuele Riva e Jean-Louis Trintignant, o filme merece ser visto e discutido. “Amor” será exibido hoje (domingo) às 10h, 18h e 20h30.

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