domingo, 24 de junho de 2012

CINE TROPPO - SEMANA DE 22 À 28/06/12


CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho

Lançamentos da Semana Caso não haja alteração de última hora, a única estréia da semana é “Sombras da Noite” e “E ai, Comeu?”.
“Sombras da Noite” é o novo filme de Tim Burton (Peixe Grande/Ed Wood/Edward Maãos de Tesoura/A Noiva Cadáver). No ano de 1752, Joshua, Naomi Collins e seu filho Barnabas, foram embora de Liverpool, Inglaterra, para começar uma nova vida na América. Mas mesmo um oceano não foi suficiente para escapar da misteriosa maldição que atormenta sua família. Duas décadas se passaram e Barnabas (Johnny Depp) tem o mundo aos seus pés, ou pelo menos a cidade de Collinsport, Maine. Capitão do Collinwood Manor, Barnabas é rico, poderoso e um playboy inveterado até que ele comete o erro grave de quebrar o coração de Angelique (Eva Green), uma bruxa, em todos os sentidos da palavra, Angelique condena-o a um destino pior que a morte, transformando-o em um vampiro e enterrando-o vivo. Dois séculos mais tarde, Barnabas é libertado de seu túmulo, e ele surge nos dias modernos. No elenco, Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Helena Bonham Carter e Eva Green.
“E Ai, Comeu?” é uma adaptação da peça de Marcelo Rubens Paiva, que acompanha situações do cotidiano pela ótica masculina e é uma comédia vivida por três amigos de infância que tentam entender o papel do homem, diante da nova mulher. No elenco, Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira e Emilio Orciollo Netto, Dira Paes e Tainá Müller. A direção é de Felipe Joffily

Crítica/DVD
“Criação”
O livro A Origem das Espécies (The Origin of Species) de Charles Darwin foi publicado pela primeira vez em 1859. Foi uma decisão muito difícil para o autor tornar público o resultado de suas pesquisas porque mudariam, como de fato mudaram, teorias científicas e concepções religiosas. Criação (Creation, Reino Unido, 2009), dirigido por Jon Amiel, tem história de Jon Amiel e John Collee e roteiro de John Collee, baseados no livro Annie’s Box, de Randal Keynes. Paul Bettany no papel de Charles Darwin tem um desempenho à altura do drama do naturalista que, além de uma doença de estômago e tremores nas mãos, enfrenta a oposição da mulher Emma (Jennifer Connelly também com ótimo desempenho), arraigada em conceitos religiosos, no que conta com o apoio do Reverendo John Innes (Jeremy Northam) para tentar convencer Darwin a não publicar seu livro. Mas o maior drama de Darwin está na perda da filha Annie (Martha West), no filme com nove anos; ela é quem apóia, questiona, motiva o pai, mesmo depois de morta, na batalha psicológica que ele trava com os outros e consigo mesmo.
Mostrar o pesquisador inserido na família e a influência do relacionamento familiar no contexto das pesquisas científicas é uma dos aspectos significativos do filme. Darwin ama a esposa e os filhos, participa da educação das crianças e das brincadeiras, é carinhoso e até frequenta eventos religiosos. Jon Amiel e John Collee não destacam o cientista com uma aura de divindade como se despojado de sua condição humana por investir no estudo e descobertas reservados a poucos.A morte de Annie, na verdade, é que foi o problema maior de Darwin. Durante todos os momentos do tempo presente, Charles Darwin é um homem angustiado, doente, inseguro apesar de estar convencido da validade de suas pesquisas. As voltas ao passado é que mostravam, na maior parte das vezes, uma família feliz, sentimento que foi se alterando a partir do início da doença de Annie.
Há mais no filme: a concorrência entre pesquisadores pela primazia das descobertas. Quando toma conhecimento do trabalho de Alfred Russel Wallace, que chegou à mesma conclusão que ele apresentando-a em 20 páginas, Charles Darwin mergulha em uma profunda crise que o leva a tentar destruir os seus ambientes de pesquisa experimental. Quando a família não consegue fazer mais nada, um amigo pode ser salvação. Joseph Hooker, com o direito e dever que a amizade lhe dá, entra no quarto de Darwin que está deitado na cama completamente abatido. Hooker é veemente no incentivo a Darwin, até o agride, fala dos inimigos em Londres que estão comemorando no Athenaeum a notícia de que ele tivera um ataque apoplético. Hooker literalmente arranca Darwin da cama e manda ele se tratar. Finaliza dizendo: “Eu lhe imploro, vá a Malvern, tome sua água abençoada de cura, volte e vença essa por nós.Darwin atendeu ao amigo Hooker e foi fazer tratamento hidroterápico em Malvern, ele acreditava na hidroterapia e a usava antes. Annie também fizera tratamento hidroterápico. As alternâncias entre o tempo presente focando o tratamento de Darwin e os flashbacks focando o de Annie acompanhada do pai são compostas em unidades homogêneas que associam ações em dois momentos de tempo no mesmo espaço fundindo a emoção das lembranças no presente e as tensões estressantes do passado, antecedentes da tragédia. Essa sequência em flashback é seguida por uma conversa de Darwin com o hidroterapeuta, no tempo presente do filme.
O médico associa os sintomas de Darwin à morte da filha e sentencia: “- Você deve aceitar que não há mais nada a ser feito. Querido amigo. Ela está no céu.” E Darwin: “ - Sim, é nisso que minha esposa acredita.”. E volta-se à conversa entre Darwin e o médico. Darwin explica: “ - Naquele momento, ela se refugiou na religião e eu, na ciência.” Uma dicotomia em discussão permanente. Charles Darwin irá chegar à superação após um enfrentamento psicológico violento consigo mesmo, com delírios e lembranças. As lembranças dos momentos imediatamente anteriores à morte de Annie, assistida por ele.O filme é magistralmente composto por Jon Amiel e John Collee com avanços e recuos no tempo, variação do espaço, cortes, fusões, sobre-impressões em uma planificação funcional, que dão fluidez e coerência na narrativa.E virá a reconciliação com Emma que se inicia com forte reação da mulher, violenta de início. A segurança e a firmeza de Darwin, no entanto, evitam um conflito que seria definitivo. Há uma verdadeira catarse mútua. A reconciliação é total. E Darwin volta a escrever seu livro. Até que, finalmente conclui seu texto, mas teve tempo de se reconciliar também com os filhos, especialmente com Etty, a mais velha e que mais sentia a preferência do pai por Annie. Enfim, a decisão sobre a publicação do livro fica para Emma. Darwin passa-lhe os manuscritos do livro. Ele deixa, assim, para ela, a decisão de publicar seu livro ou destruí-lo, se assim o julgasse.Emma se dedica intensamente à leitura dos manuscritos e aprova a publicação. No final, Darwim caminha em direção a casa, ao longe. Annie o acompanha. Diante da casa, ainda longe, Emma brinca com as crianças. A tela escurece. Explicações adicionais aparecem escritas na tela:“A ORIGEM DAS ESPÉCIES”, DE CHARLES DARWIN, ESGOTOU-SE NO DIA DE SUA PUBLICAÇÃO. CHARLES E EMMA FICARAM CASADOS E FELIZES ATÉ ELE MORRER, AOS 73 ANOS. ELE FOI ENTERRADO COM TODAS AS HONRARIAS CRISTÃS NA ABADIA DE WESTMINSTER.(Arnaldo Prado Jr.) .

AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Segunda, dia 25/06 será exibido “A Noite” de Michelangelo Antonioni, segundo filme da trilogia da incomunicabilidade realizada pelo diretor no início dos anos 60 No elenco, Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau. A exibição acontecerá às 19h com entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.No dia 02/07, será exibido o filme “Onibaba-A Mulher Diabo” de Kaneto Shindo.
*Cine Olympia: Neste domingo, dentro do FESTIVAL CHARLIE CHAPLIN, será exibida a obra-prima “Luzes da Cidade” realizada em 1931. A sessão começa às 18:30h com entrada franca. Na sessão Cinemateca, hoje será exibido o clássico “Belinda” de Jean Negulesco às 16h com entrada franca. Belinda é uma solitária jovem surda-muda que vê sua vida mudar com a chegada de um médico ao vilarejo onde mora. Produção de 1948. Apoio : ACCPA.
*Cine Líbero Luxardo: A partir do dia 04/07, estréia “Tomboy” de Celine Scianma. O filme mostra a história de uma garota que se veste, age e se apresenta a todos como menino. .
*Cine Estação: Para o mês de julho, está confirmada a exibição de “Um Método Perigoso” de David Cronenberg. A história mostra o encontro de dois mestres da psicanálise, Sigmund Freud e Carl Jung.
*Cine Saraiva : Numa parceria da ACCPA e APC (Academia Paraense de Ciências), será exibido dia 28/06 o filme “Criação”, baseado na vida de Charles Darwin A exibição acontecerá às 17h com entrada franca e debate.

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