Marco Antonio Moreira Carvalho
“BLUE JASMINE”
Woody Allen sabe o que quer dizer e como dizer quando faz um filme. Afinal, com a experiência de quem trabalha a mais de 40 anos no cinema como roteirista e diretor, ele já adquiriu um estilo próprio e uma incrível segurança no escrever e filmar que ainda me impressiona e revela novas reflexões. Seu novo filme, "Blue Jasmine", traz uma galeria de personagens típicas da sua obra que mostram os erros, acertos, decepções e o instinto de sobrevivência de ser humano. E o que pode parecer uma simples comédia dramática, se transforma numa obra complexa, repleta de leituras. É fantástico o poder de síntese de Allen ao apresentar tantos assuntos interessantes em poucos personagens, tornando seus filmes sempre tão atuais, especialmente quando trata da busca de identidade de seus personagens. A personagem principal, Jasmine, interpretada magistralmente por Cate Blanchett numa atuação antológica, é uma mulher que vê seu rico mundo financeiro se quebrar quando seu marido é descoberto em uma série de irregularidades financeiras (personagem provavelmente inspirado na recente crise econômica que viveu os EUA) e a partir disso é obrigada a se reconstruir buscando ajuda na irmã que é muito diferente do seu jeito de ser e ver o mundo e que nunca deu muita atenção. E essa reconstrução vai se transformando numa odisseia de dor, graça, mentiras e fantasias que acaba deixando o espectador como uma impotente testemunha diante de tanta ingenuidade/loucura/insegurança desta frágil e ao mesmo tempo forte personagem. Afinal, Jasmine tem que mudar mas continua a mesma sonhando os mesmos sonhos, mantendo as mesmas esperanças e mentiras ao ponto de querer ter um novo relacionamento no mesmo modelo de seu casamento que fracassou pela mentira e fantasia que ela mesma criou em torno de si.
Jasmine é uma personagem em busca de algo mais desde pequena (como todos nós) mas não sabe exatamente o que. É uma personagem extremamente humana que revela o tempo todo sua insegurança e vai se acostumando com as coisas/pessoas mesmo quando confrontada pela realidade. E mesmo quanto tem que se reconstruir, repete suas fragilidades e erros. Mas Jasmine aprenderá ? Seu relacionamento com a irmã tão diferente e tão distante poderá causar alguma mudança? Um novo emprego ajudará? Estudar, aprender, compartilhar? Afinal, ser alguém pela primeira vez, é possível? "Blue Jasmine" é um filme sobre como recomeçar mas um recomeçar com uma amargura necessária, não deixando de lado o passado, as dores, os sofrimentos vividos. Afinal, tem que se aprender com os riscos/erros/desastres da caminhada. Mas no final, não sabemos se Jasmine aprendeu. Nunca saberemos e acredito que é exatamente esta dúvida que Woody Allen quer deixar com os espectadores. Ao lado de outros personagens criados por Allen, Jasmine nos acompanhará para sempre por ter muito de nós assim como Cecília em “A Rosa Púrpura do Cairo” e seu eterno sonho de ser feliz. Somos um pouco Cecília, Jasmine. Woody Allen nos lembra disso e como é bom ver no cinema um trabalho tão honesto e emotivo onde podemos ver na tela do cinema muito de nós e de outros. Afinal, como Jasmine já sabe, ser humano é difícil. Para Jasmine, cito aqui a letra de uma bela canção, em forma de pergunta : a lição já sabemos de cor. Só nos resta aprender? Ave Woody Allen.
ESTREIAS DA SEMANA
“Um Time Show de Bola” de Juan Jose Campanella - Um rapaz tímido, chamado Amadeo, recebe a inusitada ajuda de bonecos de uma mesa de pebolim para derrotar um adversário em comum, conhecido como “O Campeão”. Animação dirigida pelo mesmo cineasta argentino que realizou “O Segredo de seus Olhos” e “O Filho da Noiva”
“Blue Jasmine” de Woody Allen - Uma mulher rica perde todo seu dinheiro e é obrigada a morar em São Francisco com sua irmã, em uma casa muito mais modesta. Ela acaba encontrando um homem na Bay Area que pode resolver seus problemas financeiros, mas antes ela precisa descobrir quem ela é. Com Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins e Peter Sarsgaard.
“Crô – O Filme” de Bruno Barreto
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira :
Dia 09/12 – “Harry : O Amigo de Tonto” de Paul Mazursky. Com Art Carey Jr.. “Oscar” de melhor ator/1974. Sessão às 19h. Entrada Franca. Debate após a exibição.
*Cine Olympia:
De 22/11 à 05/12 – “O Nono Dia” de Volker Schlondorff. Sessão às 18:30h. Entrada Franca. Apoio : Instituto Goethe
Dia 06/12 – “Depois da Chuva”
*Cine Líbero Luxardo: De 26/11 à 01/12 - Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul
*Cine Estação: Em Dezembro : “Os Amantes Passageiros” de Pedro Almodovár.
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