sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
"O SOM AO REDOR" NO CINE LÍBERO LUXARDO
Um país, uma cidade, uma rua, vários personagens e uma ilusão de harmonia, de paz e de tranquilidade que não existe. Não pode existir. Não tem como existir. Afinal, as diferenças sociais, pessoais, de poder e de pobreza estão no dia a dia, nas coisas, no som das coisas e pesssoas e principalmente, nos silêncios de tudo e todos. E é sobre estes “silêncios” que Kleber Mendonça fez “O Som ao Redor”, um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos. O filme mostra a rotina de personagens de uma rua de Recife que vivem sob o regime da apatia, da indiferença, do ódio, da incomunicabilidade e da infelicidade. Alguns personagens tem o poder econômico. Outros, o poder da raiva e da revolta demonstrados a qualquer momento. Cada personagem é construído no filme com o mínimo de informação ao espectador mas como Kleber Mendonça filma sua história, nada mais é preciso para entendermos o universo que cada um vive. Raras vezes vi um diretor filmar tão bem seus personagens, sua ambientação, seu exterior e principalmente seu interior. “O Som ao Redor” é um filme sobre o silêncio de cada um dos personagens sobre este mundo em que vivem. Silêncio este que cria um sentido de anarquia que pode explodir a qualquer instante,seja numa reunião de condomínio, seja durante uma festa do “dono” da rua, seja num telefonema. E é com esta ambientação que o filme se desenvolve brilhantemente.
Com influência de vários estilos e escolas de cinema, inclusive do cinema novo brasileiro, podemos encontrar em “O Som ao Redor” a realidade brasileira (?) exposta na veia, no coração, sem filtros, sem misericórdia. Por isso, o filme tem um clima mágico, estranho. Porque é realista, duro e não desvia o seu olhar do que está registrando. O cinema é fantasia? “O Som ao Redor” é sobre a realidade, nua e crua. Oportuno em registrar os conflitos diários do nosso dia a dia social, o filme de Kleber Mendonça vai além. Desperta no espectador um sentimento de choque, de realidade, de surpresa, de tristeza com o que vê através dos acontecimentos desta rua que é de Recife e pode/deve ser de qualquer cidade/país. Ao sair do cinema, o que fazer com tanta informação, emoção, realidade muitas vezes escondida através da mídia, do mundo virtual, do mundo áudio-visual? Kleber Mendonça certamente não deu respostas para essa questões mais deixou em cada espectador um rastro de pensamento e reflexão como há muito tempo não se faz no cinema brasileiro. Sem mais palavras para definir a dimensão deste grande filme, sugiro apenas que quem puder ver “O Som ao Redor” que veja logo pois o filme sai de cartaz no próximo domingo.
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