CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho
Crítica/”Django Livre”
Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012) escrito e dirigido por Quentin Tarantino se localiza nos EUA, no ano de 1858, dois anos antes do início da Guerra Civil, período em que a escravidão negra estava estabelecida nas fazendas americanas e, também, quando caçadores de recompensas podiam, sob a proteção da justiça, prender e até matar pessoas acusadas de roubos e assassinatos. Época de exacerbação da violência, um tema normalmente presente na obra de Tarantino. O filme é forte, muito bem desenvolvido cinematograficamente em uma narrativa fluente, dramática, com situações de extrema violência externa, mas envolvida por elementos que a colocam em cheque como solução no contexto geral. Não tem função apenas plástica, mas está inserida na análise global das situações e condicionantes sociais e econômicos do momento.O Dr. King Schultz (Christoph Waltz), apresentando-se como dentista, interrompe uma marcha de escravos conduzida pelos irmãos Speck. Ele procura um escravo que conheça e possa identificar os irmãos Brittle. Django (Jamie Foxx), um dos cativos, se manifesta, ele é capaz de atender ao pedido de Schultz que, por isso, tenta comprar o escravo. No entanto, um dos irmãos prefere matar o dentista, ele vê em Schultz um inexpressivo e dócil negociante. Engana-se. Schultz o mata e atira na perna do outro. E a negociação se efetiva: King paga ao ferido, por Django e pelo cavalo do morto, solta os escravos oferecendo-lhes duas opções: levar o sobrevivente para a cidade ou matá-lo.
Na verdade, King Schultz é um caçador de recompensas. Ele, então, designa Django seu auxiliar e o convence a se associar a ele com participação nas recompensas. De início Django reage, mas acaba aceitando a proposta, Schultz o fez passar por um teste de fogo e a uma explicação que o convenceu.Caçar ladrões e assassinos é uma tarefa perigosa, mas Schultz, um homem de rara inteligência, aplica estratégias inusitadas extremamente arriscadas, mas eficazes. Essas estratégias dão ao filme um caráter de novidade, são criativas, instigantes e intrigantes e sustentam um clima de suspense na narrativa. Em alguns momentos as explicações dadas por Schultz para garantir o sucesso de suas caçadas, além de serem muito bem elaboradas do ponto de vista lógico, trazem toques de bom humor que aliviam o clima de tensão. Há uma sequência cômica quando um fazendeiro vai liderar um ataque. Seus acompanhantes usam sacos brancos nas cabeças lembrando a Ku Klux Klan (KKK). Quando se preparam para a ação percebem que os sacos impedem que enxerguem bem. Para melhorar a visão, alguns abrem mais os buracos na direção dos olhos, mas sem sucesso, alguns até rasgam o capuz improvisado. Diante das reclamações um deles se aborrece, se considera ofendido, pois quem dedicou tempo a preparar os sacos foi sua mulher. Essa sequência, de preparação da violência, torna-se risível e soa, também, como uma crítica à organização racista. Mas não é só caça a malfeitores que sustenta o filme.
Django é casado com Broomhilda Von Shaft (Kerry Washington), escrava como ele e que, antes, havia sido serva de uma senhora alemã. Aliás, King Schultz é, também, alemão. King e Django, além de sócios, tornam-se amigos e a busca pela mulher de Django se incorpora à caçada aos bandidos.Com os dois objetivos em mente, chegam à fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), local onde duas fortes personalidades vão se enfrentar em confronto psicológico e físico: Schultz e Candie. E com a participação do velho Stephen (Samuel L. Jackson), um escravo liberto extremamente afeiçoado a Candie, já o fora ao pai dele e é uma espécie de conselheiro do fazendeiro. Mas o confronto final é entre Django e Stephen.Na verdade, a fazenda dos Candie retrata, em cores fortes, aspectos significativos daquele momento histórico nos EUA: brutais proprietários de terras administrando com extrema violência suas fazendas com a exploração do trabalho de escravos, gerando conflitos na ocupação do extenso território americano, alguns dos condicionantes para a explosão da Guerra Civil.
Tarantino foi muito hábil na criação dos personagens porque cada um deles representa e concentra características das vertentes sociais do momento; os exageros estão pela necessidade de síntese e da contundência própria do estilo do cineasta.A morte dos ocupantes e a destruição da mansão dos Candies em uma grande explosão e incêndio, sob as vistas de Django e Broomhilda, definem claramente os vencedores, com o toque romântico do casal reunido, o amor também venceu. Uma variação de soluções semelhantes já utilizadas e ao gosto de Hollywood, mas que ficou muito bem colocada em Django Livre, (Unchained), Django desacorrentado. (Arnaldo Prado Junior)
ESTREIAS DA SEMANA
“O Porto” de Aki Kaurismaki
“O Lado Bom da Vida” com Jennifer Lawrence e Robert De Niro
“Caça aos Gangsters” com Sean Penn
“Inatividade Parnormal”
"Os Miseráveis"
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 04/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “A Grande Testemunha” de Robert Bresson, considerado um dos maiores filmes deste grande cineasta (realizador de “Mouchette” e “Pickpocket”). O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Encerrando a mostra em homenagem ao cineasta Orson Welless, hoje será exibido o filme “A Marca da Maldade”, realizado em 1957. Sessão às 18:30 h com entrada franca. Na sessão cinemateca, hoje, às 16h, será exibido “Estamos Todos Bem” de Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso) com grande atuação de Marcelo Mastroianni. De 05 à 17/02, o Cinema Olympia exibirá uma mostra de filmes de Guerra com grandes clássicos como “A Grande Ilusão” de Jean Renoir, “Um Punhado de Bravos” de Raoul Walsh e “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 03/02 é o último dia de exibição de “Moonrise Kingdom” de Wes Anderson. No filme, um casal pré-adolescente se apaixona e foge para uma floresta, levando a comunidade toda à loucura por sua busca. No elenco, Bruce Willis, Edward Norton e Bill Murray. O filme será exibido às 17h e 19h.
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki, estreia neste domingo (dia 03) com matinal às 10h e sessões às 18h e 20h30. O filme mostra um horizonte peculiar sobre a vida dos imigrantes ilegais na Europa mostrando a história de um menino africano que chega numa cidade portuária e, nesta situação, seus habitantes precisam ter compaixão para que possam entender o universo dos estrangeiros em uma nova terra.
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