CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho
“Oscar” 2013
Chegou o dia da cerimônia de entrega do “Oscar” 2013. Comparando com as últimas edições, este ano tivemos menos filmes interessantes para conferir. Como maior prêmio do cinema americano, o “Oscar” tem indicado bons filmes entre 2010 e 2012. Este ano, por diversas razões comerciais ou não, poucos destaques e uma grande surpresa: “Indomável Sonhadora”. Além desta surpresa, estranhei o grande número de indicações para “O Lado Bom da Vida”, filme mediano que realmente não merecia tanta atenção (excetuando as boas atuações de Jennifer Lawrence e Robert De Niro). “Indomável Sonhadora” é um belo filme que podemos classificar como neo-realista surrealista. Num clima mágico, acompanhamos aqui a história de uma criança de seis anos que vive no delta de um rio na Louisiana numa comunidade isolada onde tudo está aparente em harmonia. Tudo muda após uma tempestade que vai revelar mudanças em todos da comunidade na busca pela sobrevivência. Na visão desta criança, acompanhamos as transformações do seu mundo interno e externo, mágico e perdido, em contato com um novo mundo. Trabalho de expressão que merece atenção quando for exibido.
Outro filme que está acima de qualquer suspeita entre os indicados é “O Mestre”, novo filme do cineasta Paul Thomas Anderson (de “Sangue Negro” e “Magnólia”). “O Mestre” é um filme de arte, dentro da concepção que tenhos de que o cinema é uma arte de/para reflexão. Com um excelente roteiro e grandes atuações de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, o filme impressiona.Certamente é um dos melhores filmes do ano.
O grande favorito ao “Oscar” deste ano era “Lincoln”, admirável filme de Steven Spielberg que nunca esteve tão bem como diretor na realização de um dos melhores projetos de sua carreira. Spielberg e Daniel Day Lewis devem ser premiados. Lewis está numa atuação mágica e poucos atores de hoje tem seu talento. Mas nos últimos meses, “Argo” de Ben Affleck se tornou o favorito pelas inúmeras premiações que ganhou incluindo o “Globo de Ouro” de melhor filme,. Ao mostrar uma versão sobre um fato real ocorrido com funcionários da embaixada americana no Irã, Affleck fez um filme bem narrado e bem construído e que provoca interesse no espectador mais ideologicamente, o filme é um desastre. Patriota, tendencioso e maniqueísta, “Argo” é um filme “sem-vergonha”, como já escrevi nas mídias sociais e certamente será premiado não pela sua narrativa mais sim pelo que o filme representa ideologicamente para os americanos. Posso dizer o mesmo para “A Hora Mais Escura”, filme polêmico que entre outras abordagens sobre a missão de matar o terrorista Bin Laden, tem uma tendência de aprovar que os fins justificam os meios e que a tortura é um meio legítimo para ser usado durante uma guerra. A diretora Kathryn Bigelow já demonstrou “talento” para filmes deste tipo desde o pernicioso “Guerra ao Terror” que inclusive foi premiado com “Oscar”. Infelizmente, Jessica Chastain (uma grande atriz em ascensão) é a protagonista. Seu talento merecia outro tipo de projeto.
“Os Miseráveis” é uma versão longa e exagerada da obra de Victor Hugo. Às vezes belo e quase sempre chato e exagerado na sua concepção, o filme deve ganhar o “Oscar” de melhor atriz coadjuvante para Anne Hathaway e algum prêmio técnico.
“Amor” de Michael Haneke deve ser premiado com o “Oscar” de melhor filme estrangeiro e atriz com a atuação magistral de Emanuelle Riva. Caso Emanuelle não ganhe, teremos mais um ponto negativo no histórico desta premiação que é marcada por injustiças e “esquecimentos” absurdos que a cada ano são lembrados com certa amargura por vários cinemaniacos. Quentin Tarantino, que tem feito um cinema que cada vez mais está na preferência de Hollywood, deve ser premiado pelo roteiro original do “Django Livre” (seu melhor trabalho desde “Jackie Brown”) e Christopher Waltz deve ganhar como ator coadjuvante.
Independente de tendências, indicações e premiações, o melhor do “Oscar” é que o cinema fica mais do nunca no centro das atenções da mídia mundial além de ser um meio de confraternização dos cinemaníacos que como eu, sempre acompanham a cerimônia e criticando ou não, usam o “Oscar” para debater sobre cinema. E isto é sempre bom. A seguir, escolhi algumas categorias de destaque da noite do “Oscar” indicando meus favoritos. Acertando ou não, espero apenas que “Amor” não seja mais uma injustiça desta grande festa do cinema americano, vencendo pelo menos na premiação da grande Emanuelle Riva.
Melhor Filme – “Lincoln” ou “Indomável Sonhadora”
Melhor Ator – Daniel Day Lewis por “Lincoln” ou Joaquin Phoenix por “O Mestre”
Melhor Atriz – Emmanuele Riva por “Amor”
Melhor Ator Coadjuvante – Robert de Niro por “O Lado Bom da Vida” ou Philip Seymour Hoffman por “O Mestre”
Melhor Atriz Coadjuvante – Sally Field por “Lincoln”ou Amy Adams por “O Mestre”
Melhor Direção – Steven Spielberg por “Lincoln”
Melhor Filme Estrangeiro – “Amor” de Michael Haneke
ESTRÉIAS DA SEMANA
“Cirque du Soleil – Outros Mundos 3D”
“Duro de Matar – Um Bom Dia Para Morrer”
“O Reino Gelado”
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 25/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “Império da Paixão” em homenagem ao diretor Nagisa Oshima que faleceu recentemente. A história do filme acontece numa aldeia japonesa, por volta de 1895. Um velho condutor de riquixá já não possui forças para fazer honrar sua mulher, Seki. Na pessoa do jovem Toyoji, ela encontra o amante. Rapidamente o marido transforma-se num empecilho, e ele é então estrangulado e jogado dentro de um poço. Mas os amantes não são prudentes e um inquérito é aberto.O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Hoje é o último dia da mostra de filmes do “Oscar” com a exibição de “O Homem Elefante” de David Lynch às 18: 30 h. Na sessão Cinemateca, hoje às 16h, será exibido “O Terceiro Homem” com Orson Welles. Entrada Franca. Dando prosseguimento a programação de mostras em homenagens aos grandes nomes do cinema, o Cinema Olympia exibirá do dia 26 /02 à 03/03/13 uma seleção de filmes da grande atriz Bette Davis como “O Que Terá Acontecido com Baby Jane?”.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 13 à 24/02, serão exibidos dois filmes em diversas sessões: “O Som ao Redor” de Kleber Mendonça e “Django Livre”. “O Som ao Redor” é uma das produções brasileiras mais elogiadas dos últimos anos. O filme mostra a rotina de uma rua de classe-média na zona Sul do Recife que toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece paz de espírito e segurança particular. No elenco, Irhandir Santos (Febre do Rato).
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki tem hoje sua última exibição às 10h, 18h e 20h30. No filme, Marcel Marx (André Wilms) é um homem que vive como engraxate nas proximidades do porto e, com o pouco dinheiro que ganha, tenta sustentar sua casa. Vivendo com dificuldades, ele vê sua rotina mudar quando sua esposa (Kati Outinen) subitamente adoece e um garoto africano chega ao país dentro de um cargueiro. Com o auxílio de alguns vizinhos, resolve esconder o menino e encontrar sua família, enquanto tenta despistar o detetive encarregado de localizar o imigrante ilegal.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
"O SOM AO REDOR" NO CINE LÍBERO LUXARDO
Um país, uma cidade, uma rua, vários personagens e uma ilusão de harmonia, de paz e de tranquilidade que não existe. Não pode existir. Não tem como existir. Afinal, as diferenças sociais, pessoais, de poder e de pobreza estão no dia a dia, nas coisas, no som das coisas e pesssoas e principalmente, nos silêncios de tudo e todos. E é sobre estes “silêncios” que Kleber Mendonça fez “O Som ao Redor”, um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos. O filme mostra a rotina de personagens de uma rua de Recife que vivem sob o regime da apatia, da indiferença, do ódio, da incomunicabilidade e da infelicidade. Alguns personagens tem o poder econômico. Outros, o poder da raiva e da revolta demonstrados a qualquer momento. Cada personagem é construído no filme com o mínimo de informação ao espectador mas como Kleber Mendonça filma sua história, nada mais é preciso para entendermos o universo que cada um vive. Raras vezes vi um diretor filmar tão bem seus personagens, sua ambientação, seu exterior e principalmente seu interior. “O Som ao Redor” é um filme sobre o silêncio de cada um dos personagens sobre este mundo em que vivem. Silêncio este que cria um sentido de anarquia que pode explodir a qualquer instante,seja numa reunião de condomínio, seja durante uma festa do “dono” da rua, seja num telefonema. E é com esta ambientação que o filme se desenvolve brilhantemente.
Com influência de vários estilos e escolas de cinema, inclusive do cinema novo brasileiro, podemos encontrar em “O Som ao Redor” a realidade brasileira (?) exposta na veia, no coração, sem filtros, sem misericórdia. Por isso, o filme tem um clima mágico, estranho. Porque é realista, duro e não desvia o seu olhar do que está registrando. O cinema é fantasia? “O Som ao Redor” é sobre a realidade, nua e crua. Oportuno em registrar os conflitos diários do nosso dia a dia social, o filme de Kleber Mendonça vai além. Desperta no espectador um sentimento de choque, de realidade, de surpresa, de tristeza com o que vê através dos acontecimentos desta rua que é de Recife e pode/deve ser de qualquer cidade/país. Ao sair do cinema, o que fazer com tanta informação, emoção, realidade muitas vezes escondida através da mídia, do mundo virtual, do mundo áudio-visual? Kleber Mendonça certamente não deu respostas para essa questões mais deixou em cada espectador um rastro de pensamento e reflexão como há muito tempo não se faz no cinema brasileiro. Sem mais palavras para definir a dimensão deste grande filme, sugiro apenas que quem puder ver “O Som ao Redor” que veja logo pois o filme sai de cartaz no próximo domingo.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
CINE TROPPO - SEMANA DE 15 À 21/02/13
CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira
Críticas
“O Lado Bom Da Vida” de David Russel.
A mistura de gêneros nem sempre funciona. Comédias dramáticas, dramas cômicos, seja o que for, tem que ter um roteiro muito bem estruturado com personagens bem definidos para que o “timing” das situações funcione na tela e o tema principal do filme não seja abalado, enfraquecido. “O Lado Bom da Vida” (do mesmo diretor do bom “O Vencedor” que deu “Oscar” de melhor ator coadjuvante para Christian Bale) começa bem. Muito bem. Um dos personagens, um ex-professor que após passar quatro anos internado numa instituição para tratamento de deficientes mentais tenta consertar os erros de seu passado, dá o tom principal do filme. A busca desesperada pelo passado como redenção do presente, seu relacionamento com a ex-esposa, pais, família e tudo que o cerca é absurdamente paraóico. À deriva, este personagem acaba encontrando uma mulher que vive seus dramas pessoais de forma diferente, mais agressiva, mais realista mais não menos sofrida. A partir daí, ela guia o filme com sua personalidade forte e enigmática. Até este momento o filme cresce, funciona, interessa. O que pode acontecer com estes dois personagens à deriva, à margem? Dois “outsiders” num meio social pobre e cheios de regras. Mas a solução fácil transformar o filme em algo simpático ao público muda toda a direção da história. Colocar uma competição de dança como uma “passagem” deste mundo de solidão para um mundo de redescoberta transformou a história num clichê do clichê. Final previsível, cenas previsíveis. Faltou apenas a canção “When You Wish upon a Star” para terminar este conto de fadas que no início era um drama interessante sobre dois “outsiders”. O que salva o filme do desinteresse total são as atuações de Jennifer Lawrence (grande atriz de sua geração que já esteve fantástica em “Inverno da Alma”) e Robert De Niro (grande ator da sua geração que apesar de nem sempre fazer bons filmes sempre está digno em seus papéis). Ambos podem ganhar o “Oscar” este ano e merecem. Mas fica a pergunta: “O Lado Bom da Vida” é apenas um filme mediano, comum, sem maiores questões. E como o “Oscar” coloca esse filme em tamanha evidência com tantas indicações? Nos últimos anos, os filmes indicados ao maior prêmio do cinema americano tem sido de bom nível mais este ano, apesar de bons filmes lançados, algumas indicações decepcionaram. Tomara que em 2014, o “Oscar” volta a ter mais critério e indique filmes melhores.
“Os Miseráveis” de Tom Hooper
Gosto de musicais. Cresci vendo muitos filmes deste gênero que respeito e admiro até hoje. Mas esta versão exagerada de “Os Miseráveis” navega entre belas cenas e momentos sem a menor inspiração. O diretor e os atores se esforçam para fazer um grande filme usando todos os recursos que conhecem mais com um roteiro que mistura vários elementos da história principal de Vitor Hugo e que altera algumas questões básicas da história original, o filme não se sustenta. O filme é longo, às vezes literalmente chato, com atuações exageradas (especialmente Hugh Jackman e Anne Hathaway) e muitas vezes incomoda deixando uma vontade enorme de ver outras versões desta bela história que já rendeu bons filmes no passado. A direção Tom Hooper (de “O Discurso do Rei”) procurou fazer um registro mais realista filmando os atores cantando de verdade nas cenas e com o enquadramento bem próximo do rosto de cada ator. Em muitos momentos isso funciona como um bom elemento dramático mais em outros é desnecessário, enfraquecendo a força de algumas canções interpretadas. Com relação ao “Oscar”, Anne Hathaway pode ser premiada num atuação completamente exagerada. Mas se ganhar, não vai surpreender. Afinal, decisões como essas são normais para o “Oscar”.
ESTRÉIA DA SEMANA
“A Hora Mais Escura”
DESTAQUES DA SEMANA
“O Som ao Redor” de Kleber Mendonça (Cine Líbero Luxardo)
“O Porto” (Cine Estação)
“Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo (somente domingo no Cine Olympia)
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 25/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “Império da Paixão” em homenagem ao diretor Nagisa Oshima que faleceu recentemente. O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Hoje é o último dia da mostra de filmes de Guerra que exibiu grandes clássicos do cinema. Neste domingo (dia 17/02) será exibido a obra-prima “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo às 18:30 h com entrada franca. Na sessão Cinemateca, hoje às 16h, será exibido “A Lágrima que Faltou” em homenagem ao ator Danny Kaye.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 13 à 24/02, serão exibidos dois filmes em diversas sessões: “O Som ao Redor” de Kleber Mendonça (um dos filmes brasileiros mais elogiados dos últimos anos) e “Django Livre”. Na sessão Cult do dia 24/02 será exibido “Z” de Costa Gavras às 15h com debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki está em exibição na seguintes datas : 17 (domingo): às 10h, 18h e 20h30, 20 (quarta): às 18h e 20h30, 21 (quinta): às 18h e 20h30 e 24 (domingo): às 10h, 18h e 20h30.
Marco Antonio Moreira
Críticas
“O Lado Bom Da Vida” de David Russel.
A mistura de gêneros nem sempre funciona. Comédias dramáticas, dramas cômicos, seja o que for, tem que ter um roteiro muito bem estruturado com personagens bem definidos para que o “timing” das situações funcione na tela e o tema principal do filme não seja abalado, enfraquecido. “O Lado Bom da Vida” (do mesmo diretor do bom “O Vencedor” que deu “Oscar” de melhor ator coadjuvante para Christian Bale) começa bem. Muito bem. Um dos personagens, um ex-professor que após passar quatro anos internado numa instituição para tratamento de deficientes mentais tenta consertar os erros de seu passado, dá o tom principal do filme. A busca desesperada pelo passado como redenção do presente, seu relacionamento com a ex-esposa, pais, família e tudo que o cerca é absurdamente paraóico. À deriva, este personagem acaba encontrando uma mulher que vive seus dramas pessoais de forma diferente, mais agressiva, mais realista mais não menos sofrida. A partir daí, ela guia o filme com sua personalidade forte e enigmática. Até este momento o filme cresce, funciona, interessa. O que pode acontecer com estes dois personagens à deriva, à margem? Dois “outsiders” num meio social pobre e cheios de regras. Mas a solução fácil transformar o filme em algo simpático ao público muda toda a direção da história. Colocar uma competição de dança como uma “passagem” deste mundo de solidão para um mundo de redescoberta transformou a história num clichê do clichê. Final previsível, cenas previsíveis. Faltou apenas a canção “When You Wish upon a Star” para terminar este conto de fadas que no início era um drama interessante sobre dois “outsiders”. O que salva o filme do desinteresse total são as atuações de Jennifer Lawrence (grande atriz de sua geração que já esteve fantástica em “Inverno da Alma”) e Robert De Niro (grande ator da sua geração que apesar de nem sempre fazer bons filmes sempre está digno em seus papéis). Ambos podem ganhar o “Oscar” este ano e merecem. Mas fica a pergunta: “O Lado Bom da Vida” é apenas um filme mediano, comum, sem maiores questões. E como o “Oscar” coloca esse filme em tamanha evidência com tantas indicações? Nos últimos anos, os filmes indicados ao maior prêmio do cinema americano tem sido de bom nível mais este ano, apesar de bons filmes lançados, algumas indicações decepcionaram. Tomara que em 2014, o “Oscar” volta a ter mais critério e indique filmes melhores.
“Os Miseráveis” de Tom Hooper
Gosto de musicais. Cresci vendo muitos filmes deste gênero que respeito e admiro até hoje. Mas esta versão exagerada de “Os Miseráveis” navega entre belas cenas e momentos sem a menor inspiração. O diretor e os atores se esforçam para fazer um grande filme usando todos os recursos que conhecem mais com um roteiro que mistura vários elementos da história principal de Vitor Hugo e que altera algumas questões básicas da história original, o filme não se sustenta. O filme é longo, às vezes literalmente chato, com atuações exageradas (especialmente Hugh Jackman e Anne Hathaway) e muitas vezes incomoda deixando uma vontade enorme de ver outras versões desta bela história que já rendeu bons filmes no passado. A direção Tom Hooper (de “O Discurso do Rei”) procurou fazer um registro mais realista filmando os atores cantando de verdade nas cenas e com o enquadramento bem próximo do rosto de cada ator. Em muitos momentos isso funciona como um bom elemento dramático mais em outros é desnecessário, enfraquecendo a força de algumas canções interpretadas. Com relação ao “Oscar”, Anne Hathaway pode ser premiada num atuação completamente exagerada. Mas se ganhar, não vai surpreender. Afinal, decisões como essas são normais para o “Oscar”.
ESTRÉIA DA SEMANA
“A Hora Mais Escura”
DESTAQUES DA SEMANA
“O Som ao Redor” de Kleber Mendonça (Cine Líbero Luxardo)
“O Porto” (Cine Estação)
“Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo (somente domingo no Cine Olympia)
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 25/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “Império da Paixão” em homenagem ao diretor Nagisa Oshima que faleceu recentemente. O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Hoje é o último dia da mostra de filmes de Guerra que exibiu grandes clássicos do cinema. Neste domingo (dia 17/02) será exibido a obra-prima “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo às 18:30 h com entrada franca. Na sessão Cinemateca, hoje às 16h, será exibido “A Lágrima que Faltou” em homenagem ao ator Danny Kaye.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 13 à 24/02, serão exibidos dois filmes em diversas sessões: “O Som ao Redor” de Kleber Mendonça (um dos filmes brasileiros mais elogiados dos últimos anos) e “Django Livre”. Na sessão Cult do dia 24/02 será exibido “Z” de Costa Gavras às 15h com debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki está em exibição na seguintes datas : 17 (domingo): às 10h, 18h e 20h30, 20 (quarta): às 18h e 20h30, 21 (quinta): às 18h e 20h30 e 24 (domingo): às 10h, 18h e 20h30.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
CINE TROPPO - SEMANA DE 08 À 14/02/13
CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira
Críticas
“DJANGO LIVRE de Quentin Tarantino.
“Django Livre” é o melhor filme de Quentin Tarantino desde o excelente “Jackie Brown”. Neste seu novo filme, a questão da escravidão, da vingança, da violência dentro e fora dos personagens e o “plágio” de várias sequências dos grandes filmes (e também de filmes menores) do gênero “western” surgem dentro do estilo do diretor que somente ele sabe como fazer e ainda ser admirado por parte da crítica e por grande parte do público. Em “Django Livre”, os personagens são bem definidos, cada um com sua função clara de construir uma história de vingança e também de amor do escravo Django que luta para reencontrar sua esposa. A odisseia deste personagem, suas dificuldades, seu encontro com um caçador de recompensas, seu reencontro com os homens que lhe maltrataram e finalmente seu êxtase final em comemorar afinal sua vingança e redenção são mostrados em cenas impactantes visualmente, com vários diálogos interessantes (e muitas vezes com uma leve impressão de “deja vu”) e também com uma clara demonstração da cinefilia do diretor que realmente foi/é/sempre será influenciado pelo cinema. Tudo isto faz de “Django Livre” um bom filme, e só. Nada demais no tema, na abordagem, na narrativa. É Tarantino, do início ao filme. É um filme que deve ser visto. E ponto. Não vejo porque a valorização demasiada da obra deste bom diretor. Neste sentido, Tarantino é bom de fazer filme mais é excelente em fazer o marketing de seus filmes que parecem ser melhores do que realmente são. Querer encontrar em seu trabalho alguma profundidade nos temas que aborda (ou copia) é missão impossível. Outros cineastas da sua geração que fazem filmes muito melhores mais que são pobres de marketing, não merecem tanta atenção da mídia e do público. Por que será? Por que será que Hollywood aplaude seu talento, as bilheterias a cada filme crescem, o público fica fascinado com as “cenas” magistrais que ele cria (ou recria) e isto é o suficiente? Sua obra é merecedora de tanta atenção? Boas questões a serem discutidas e refletidas ainda mais quando tantos filmes e diretores bons e melhores não estão sob os “holofotes” da mídia e do público. De qualquer forma, à parte das reflexões sobre sua obra, repito, “Django Livre” é seu melhor filme desde “Jackie Brown”. Como “menos” violência e exageros, Tarantino fez um bom filme que revela mais do que nunca sua arte em fazer bons filmes mais principalmente sua arte em vendê-los aos grandes estúdios e ao grande público. Será sempre assim? Cada filme seu será um evento? Espero que não. Afinal, temos mais e melhores filmes para ver e discutir.
“LINCOLN" de Steven Spielberg. Não sou fã da obra de Steven Spielberg. Seus filmes geralmente refletem um patriotismo exagerado e ao mesmo tempo velado que sempre me incomodou muito. Ele é o mestre de cerimônia do “american way of life” há décadas. Mesmo assim, sabe como dirigir um filme e em “Lincoln” provou que é um bom diretor de cinema e não apenas um mestre de cerimônia. Ao fazer um filme sobre o ex-presidente Abraham Lincoln, Spielberg soube conduzir uma narrativa inteligente onde os diálogos são fundamentais, deixando de lado os maneirismos formais característicos de sua carreira. O filme tem cenas brilhantes, diálogos reveladores e uma sensibilidade à história que é exemplar. Longe de endeusar o personagem, o roteiro permite uma aproximação real com Lincoln mostrando uma parte de vida política e seu modo de fazer o jogo do sistema para conseguir seus objetivos, no caso, a luta pela aprovação de uma emenda que daria a liberdade aos escravos e que por consequência poderia reduzir e até mesmo terminar a guerra civil americana. Revelando o caminho do poder, seus mecanismos e suas influências, o roteiro deu chance de Spielberg valorizar os acontecimentos históricos abordados realizando cenas antológicas sobre o caráter e o que o poder representava para Lincoln e a política e a América deste período. “Lincoln” é o melhor filme de Spielberg desde “Munique”. Em nenhum momento, o filme se rende a narrativa mais fácil e acessível (que o próprio diretor ajudar a construir em vários filmes que resultaram num padrão de seu sucesso). Em certos momentos, o filme é tão profundo nas suas intenções com diálogos tão consistentes e bem escritos e filmados que parecem ser uma grande peça de teatro, filmada por um mestre do cinema que soube registrar e equilibrar o melhor de cada atuação, cada diálogo, cada iluminação e enquadramento. Aqui, Spielberg se revela um diretor com talento para fazer mais e melhor. Tomara que isso aconteça com mais frequência. Não poderia deixar de comentar a atuação do grande Daniel Day Lewis que está absurdamente perfeito interpretando o protagonista. Um atuação histórica e mágica que merecer ser premiada.
ESTRÉIAS DA SEMANA
“O Som ao Redor” de Kleber Mendonça
“O Vôo” de Robert Zemeckis
“Meu Namorado é um Zumbi”
“As Aventuras de Tadeo”
“Tainá – A Origem”
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 25/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “Império da Paixão” em homenagem ao diretor Nagisa Oshima que faleceu recentemente. O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Continua a mostra de filmes de Guerra com grandes clássicos do cinema. Neste domingo (dia 10/02) será exibido “A Raposa do Deserto” com James Mason. A mostra continua a partir de quarta-feira (segunda e terça não haverá sessão) com filmes como “Fogo na Planície” encerrando no próximo domingo com “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 13 à 24/02, serão exibidos dois filmes em diversas sessões: “O Som ao Redor” de Kleber Mendonça (um dos filmes brasileiros mais elogiados dos últimos anos) e “Django Livre”. Na sessão Cult do dia 24/02 será exibido “Z” de Costa Gavras com debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki está em exibição na seguintes datas :13 (quarta): às 18h e 20h30, 14 (quinta): às 18h e 20h30, 17 ( domingo): às 10h, 18h e 20h30, 20 (quarta): às 18h e 20h30, 21 (quinta): às 18h e 20h30 24 (domingo): às 10h, 18h e 20h30.
Marco Antonio Moreira
Críticas
“DJANGO LIVRE de Quentin Tarantino.
“Django Livre” é o melhor filme de Quentin Tarantino desde o excelente “Jackie Brown”. Neste seu novo filme, a questão da escravidão, da vingança, da violência dentro e fora dos personagens e o “plágio” de várias sequências dos grandes filmes (e também de filmes menores) do gênero “western” surgem dentro do estilo do diretor que somente ele sabe como fazer e ainda ser admirado por parte da crítica e por grande parte do público. Em “Django Livre”, os personagens são bem definidos, cada um com sua função clara de construir uma história de vingança e também de amor do escravo Django que luta para reencontrar sua esposa. A odisseia deste personagem, suas dificuldades, seu encontro com um caçador de recompensas, seu reencontro com os homens que lhe maltrataram e finalmente seu êxtase final em comemorar afinal sua vingança e redenção são mostrados em cenas impactantes visualmente, com vários diálogos interessantes (e muitas vezes com uma leve impressão de “deja vu”) e também com uma clara demonstração da cinefilia do diretor que realmente foi/é/sempre será influenciado pelo cinema. Tudo isto faz de “Django Livre” um bom filme, e só. Nada demais no tema, na abordagem, na narrativa. É Tarantino, do início ao filme. É um filme que deve ser visto. E ponto. Não vejo porque a valorização demasiada da obra deste bom diretor. Neste sentido, Tarantino é bom de fazer filme mais é excelente em fazer o marketing de seus filmes que parecem ser melhores do que realmente são. Querer encontrar em seu trabalho alguma profundidade nos temas que aborda (ou copia) é missão impossível. Outros cineastas da sua geração que fazem filmes muito melhores mais que são pobres de marketing, não merecem tanta atenção da mídia e do público. Por que será? Por que será que Hollywood aplaude seu talento, as bilheterias a cada filme crescem, o público fica fascinado com as “cenas” magistrais que ele cria (ou recria) e isto é o suficiente? Sua obra é merecedora de tanta atenção? Boas questões a serem discutidas e refletidas ainda mais quando tantos filmes e diretores bons e melhores não estão sob os “holofotes” da mídia e do público. De qualquer forma, à parte das reflexões sobre sua obra, repito, “Django Livre” é seu melhor filme desde “Jackie Brown”. Como “menos” violência e exageros, Tarantino fez um bom filme que revela mais do que nunca sua arte em fazer bons filmes mais principalmente sua arte em vendê-los aos grandes estúdios e ao grande público. Será sempre assim? Cada filme seu será um evento? Espero que não. Afinal, temos mais e melhores filmes para ver e discutir.
“LINCOLN" de Steven Spielberg. Não sou fã da obra de Steven Spielberg. Seus filmes geralmente refletem um patriotismo exagerado e ao mesmo tempo velado que sempre me incomodou muito. Ele é o mestre de cerimônia do “american way of life” há décadas. Mesmo assim, sabe como dirigir um filme e em “Lincoln” provou que é um bom diretor de cinema e não apenas um mestre de cerimônia. Ao fazer um filme sobre o ex-presidente Abraham Lincoln, Spielberg soube conduzir uma narrativa inteligente onde os diálogos são fundamentais, deixando de lado os maneirismos formais característicos de sua carreira. O filme tem cenas brilhantes, diálogos reveladores e uma sensibilidade à história que é exemplar. Longe de endeusar o personagem, o roteiro permite uma aproximação real com Lincoln mostrando uma parte de vida política e seu modo de fazer o jogo do sistema para conseguir seus objetivos, no caso, a luta pela aprovação de uma emenda que daria a liberdade aos escravos e que por consequência poderia reduzir e até mesmo terminar a guerra civil americana. Revelando o caminho do poder, seus mecanismos e suas influências, o roteiro deu chance de Spielberg valorizar os acontecimentos históricos abordados realizando cenas antológicas sobre o caráter e o que o poder representava para Lincoln e a política e a América deste período. “Lincoln” é o melhor filme de Spielberg desde “Munique”. Em nenhum momento, o filme se rende a narrativa mais fácil e acessível (que o próprio diretor ajudar a construir em vários filmes que resultaram num padrão de seu sucesso). Em certos momentos, o filme é tão profundo nas suas intenções com diálogos tão consistentes e bem escritos e filmados que parecem ser uma grande peça de teatro, filmada por um mestre do cinema que soube registrar e equilibrar o melhor de cada atuação, cada diálogo, cada iluminação e enquadramento. Aqui, Spielberg se revela um diretor com talento para fazer mais e melhor. Tomara que isso aconteça com mais frequência. Não poderia deixar de comentar a atuação do grande Daniel Day Lewis que está absurdamente perfeito interpretando o protagonista. Um atuação histórica e mágica que merecer ser premiada.
ESTRÉIAS DA SEMANA
“O Som ao Redor” de Kleber Mendonça
“O Vôo” de Robert Zemeckis
“Meu Namorado é um Zumbi”
“As Aventuras de Tadeo”
“Tainá – A Origem”
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 25/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “Império da Paixão” em homenagem ao diretor Nagisa Oshima que faleceu recentemente. O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Continua a mostra de filmes de Guerra com grandes clássicos do cinema. Neste domingo (dia 10/02) será exibido “A Raposa do Deserto” com James Mason. A mostra continua a partir de quarta-feira (segunda e terça não haverá sessão) com filmes como “Fogo na Planície” encerrando no próximo domingo com “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 13 à 24/02, serão exibidos dois filmes em diversas sessões: “O Som ao Redor” de Kleber Mendonça (um dos filmes brasileiros mais elogiados dos últimos anos) e “Django Livre”. Na sessão Cult do dia 24/02 será exibido “Z” de Costa Gavras com debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki está em exibição na seguintes datas :13 (quarta): às 18h e 20h30, 14 (quinta): às 18h e 20h30, 17 ( domingo): às 10h, 18h e 20h30, 20 (quarta): às 18h e 20h30, 21 (quinta): às 18h e 20h30 24 (domingo): às 10h, 18h e 20h30.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
CINE TROPPO - SEMANA DE 01 À 07/02/13
CINE TROPPO
Marco Antonio Moreira Carvalho
Crítica/”Django Livre”
Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012) escrito e dirigido por Quentin Tarantino se localiza nos EUA, no ano de 1858, dois anos antes do início da Guerra Civil, período em que a escravidão negra estava estabelecida nas fazendas americanas e, também, quando caçadores de recompensas podiam, sob a proteção da justiça, prender e até matar pessoas acusadas de roubos e assassinatos. Época de exacerbação da violência, um tema normalmente presente na obra de Tarantino. O filme é forte, muito bem desenvolvido cinematograficamente em uma narrativa fluente, dramática, com situações de extrema violência externa, mas envolvida por elementos que a colocam em cheque como solução no contexto geral. Não tem função apenas plástica, mas está inserida na análise global das situações e condicionantes sociais e econômicos do momento.O Dr. King Schultz (Christoph Waltz), apresentando-se como dentista, interrompe uma marcha de escravos conduzida pelos irmãos Speck. Ele procura um escravo que conheça e possa identificar os irmãos Brittle. Django (Jamie Foxx), um dos cativos, se manifesta, ele é capaz de atender ao pedido de Schultz que, por isso, tenta comprar o escravo. No entanto, um dos irmãos prefere matar o dentista, ele vê em Schultz um inexpressivo e dócil negociante. Engana-se. Schultz o mata e atira na perna do outro. E a negociação se efetiva: King paga ao ferido, por Django e pelo cavalo do morto, solta os escravos oferecendo-lhes duas opções: levar o sobrevivente para a cidade ou matá-lo. Na verdade, King Schultz é um caçador de recompensas. Ele, então, designa Django seu auxiliar e o convence a se associar a ele com participação nas recompensas. De início Django reage, mas acaba aceitando a proposta, Schultz o fez passar por um teste de fogo e a uma explicação que o convenceu.Caçar ladrões e assassinos é uma tarefa perigosa, mas Schultz, um homem de rara inteligência, aplica estratégias inusitadas extremamente arriscadas, mas eficazes. Essas estratégias dão ao filme um caráter de novidade, são criativas, instigantes e intrigantes e sustentam um clima de suspense na narrativa. Em alguns momentos as explicações dadas por Schultz para garantir o sucesso de suas caçadas, além de serem muito bem elaboradas do ponto de vista lógico, trazem toques de bom humor que aliviam o clima de tensão. Há uma sequência cômica quando um fazendeiro vai liderar um ataque. Seus acompanhantes usam sacos brancos nas cabeças lembrando a Ku Klux Klan (KKK). Quando se preparam para a ação percebem que os sacos impedem que enxerguem bem. Para melhorar a visão, alguns abrem mais os buracos na direção dos olhos, mas sem sucesso, alguns até rasgam o capuz improvisado. Diante das reclamações um deles se aborrece, se considera ofendido, pois quem dedicou tempo a preparar os sacos foi sua mulher. Essa sequência, de preparação da violência, torna-se risível e soa, também, como uma crítica à organização racista. Mas não é só caça a malfeitores que sustenta o filme. Django é casado com Broomhilda Von Shaft (Kerry Washington), escrava como ele e que, antes, havia sido serva de uma senhora alemã. Aliás, King Schultz é, também, alemão. King e Django, além de sócios, tornam-se amigos e a busca pela mulher de Django se incorpora à caçada aos bandidos.Com os dois objetivos em mente, chegam à fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), local onde duas fortes personalidades vão se enfrentar em confronto psicológico e físico: Schultz e Candie. E com a participação do velho Stephen (Samuel L. Jackson), um escravo liberto extremamente afeiçoado a Candie, já o fora ao pai dele e é uma espécie de conselheiro do fazendeiro. Mas o confronto final é entre Django e Stephen.Na verdade, a fazenda dos Candie retrata, em cores fortes, aspectos significativos daquele momento histórico nos EUA: brutais proprietários de terras administrando com extrema violência suas fazendas com a exploração do trabalho de escravos, gerando conflitos na ocupação do extenso território americano, alguns dos condicionantes para a explosão da Guerra Civil. Tarantino foi muito hábil na criação dos personagens porque cada um deles representa e concentra características das vertentes sociais do momento; os exageros estão pela necessidade de síntese e da contundência própria do estilo do cineasta.A morte dos ocupantes e a destruição da mansão dos Candies em uma grande explosão e incêndio, sob as vistas de Django e Broomhilda, definem claramente os vencedores, com o toque romântico do casal reunido, o amor também venceu. Uma variação de soluções semelhantes já utilizadas e ao gosto de Hollywood, mas que ficou muito bem colocada em Django Livre, (Unchained), Django desacorrentado. (Arnaldo Prado Junior)
ESTREIAS DA SEMANA
“O Porto” de Aki Kaurismaki
“O Lado Bom da Vida” com Jennifer Lawrence e Robert De Niro
“Caça aos Gangsters” com Sean Penn
“Inatividade Parnormal”
"Os Miseráveis"
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 04/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “A Grande Testemunha” de Robert Bresson, considerado um dos maiores filmes deste grande cineasta (realizador de “Mouchette” e “Pickpocket”). O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Encerrando a mostra em homenagem ao cineasta Orson Welless, hoje será exibido o filme “A Marca da Maldade”, realizado em 1957. Sessão às 18:30 h com entrada franca. Na sessão cinemateca, hoje, às 16h, será exibido “Estamos Todos Bem” de Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso) com grande atuação de Marcelo Mastroianni. De 05 à 17/02, o Cinema Olympia exibirá uma mostra de filmes de Guerra com grandes clássicos como “A Grande Ilusão” de Jean Renoir, “Um Punhado de Bravos” de Raoul Walsh e “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 03/02 é o último dia de exibição de “Moonrise Kingdom” de Wes Anderson. No filme, um casal pré-adolescente se apaixona e foge para uma floresta, levando a comunidade toda à loucura por sua busca. No elenco, Bruce Willis, Edward Norton e Bill Murray. O filme será exibido às 17h e 19h.
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki, estreia neste domingo (dia 03) com matinal às 10h e sessões às 18h e 20h30. O filme mostra um horizonte peculiar sobre a vida dos imigrantes ilegais na Europa mostrando a história de um menino africano que chega numa cidade portuária e, nesta situação, seus habitantes precisam ter compaixão para que possam entender o universo dos estrangeiros em uma nova terra.
Marco Antonio Moreira Carvalho
Crítica/”Django Livre”
Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012) escrito e dirigido por Quentin Tarantino se localiza nos EUA, no ano de 1858, dois anos antes do início da Guerra Civil, período em que a escravidão negra estava estabelecida nas fazendas americanas e, também, quando caçadores de recompensas podiam, sob a proteção da justiça, prender e até matar pessoas acusadas de roubos e assassinatos. Época de exacerbação da violência, um tema normalmente presente na obra de Tarantino. O filme é forte, muito bem desenvolvido cinematograficamente em uma narrativa fluente, dramática, com situações de extrema violência externa, mas envolvida por elementos que a colocam em cheque como solução no contexto geral. Não tem função apenas plástica, mas está inserida na análise global das situações e condicionantes sociais e econômicos do momento.O Dr. King Schultz (Christoph Waltz), apresentando-se como dentista, interrompe uma marcha de escravos conduzida pelos irmãos Speck. Ele procura um escravo que conheça e possa identificar os irmãos Brittle. Django (Jamie Foxx), um dos cativos, se manifesta, ele é capaz de atender ao pedido de Schultz que, por isso, tenta comprar o escravo. No entanto, um dos irmãos prefere matar o dentista, ele vê em Schultz um inexpressivo e dócil negociante. Engana-se. Schultz o mata e atira na perna do outro. E a negociação se efetiva: King paga ao ferido, por Django e pelo cavalo do morto, solta os escravos oferecendo-lhes duas opções: levar o sobrevivente para a cidade ou matá-lo. Na verdade, King Schultz é um caçador de recompensas. Ele, então, designa Django seu auxiliar e o convence a se associar a ele com participação nas recompensas. De início Django reage, mas acaba aceitando a proposta, Schultz o fez passar por um teste de fogo e a uma explicação que o convenceu.Caçar ladrões e assassinos é uma tarefa perigosa, mas Schultz, um homem de rara inteligência, aplica estratégias inusitadas extremamente arriscadas, mas eficazes. Essas estratégias dão ao filme um caráter de novidade, são criativas, instigantes e intrigantes e sustentam um clima de suspense na narrativa. Em alguns momentos as explicações dadas por Schultz para garantir o sucesso de suas caçadas, além de serem muito bem elaboradas do ponto de vista lógico, trazem toques de bom humor que aliviam o clima de tensão. Há uma sequência cômica quando um fazendeiro vai liderar um ataque. Seus acompanhantes usam sacos brancos nas cabeças lembrando a Ku Klux Klan (KKK). Quando se preparam para a ação percebem que os sacos impedem que enxerguem bem. Para melhorar a visão, alguns abrem mais os buracos na direção dos olhos, mas sem sucesso, alguns até rasgam o capuz improvisado. Diante das reclamações um deles se aborrece, se considera ofendido, pois quem dedicou tempo a preparar os sacos foi sua mulher. Essa sequência, de preparação da violência, torna-se risível e soa, também, como uma crítica à organização racista. Mas não é só caça a malfeitores que sustenta o filme. Django é casado com Broomhilda Von Shaft (Kerry Washington), escrava como ele e que, antes, havia sido serva de uma senhora alemã. Aliás, King Schultz é, também, alemão. King e Django, além de sócios, tornam-se amigos e a busca pela mulher de Django se incorpora à caçada aos bandidos.Com os dois objetivos em mente, chegam à fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), local onde duas fortes personalidades vão se enfrentar em confronto psicológico e físico: Schultz e Candie. E com a participação do velho Stephen (Samuel L. Jackson), um escravo liberto extremamente afeiçoado a Candie, já o fora ao pai dele e é uma espécie de conselheiro do fazendeiro. Mas o confronto final é entre Django e Stephen.Na verdade, a fazenda dos Candie retrata, em cores fortes, aspectos significativos daquele momento histórico nos EUA: brutais proprietários de terras administrando com extrema violência suas fazendas com a exploração do trabalho de escravos, gerando conflitos na ocupação do extenso território americano, alguns dos condicionantes para a explosão da Guerra Civil. Tarantino foi muito hábil na criação dos personagens porque cada um deles representa e concentra características das vertentes sociais do momento; os exageros estão pela necessidade de síntese e da contundência própria do estilo do cineasta.A morte dos ocupantes e a destruição da mansão dos Candies em uma grande explosão e incêndio, sob as vistas de Django e Broomhilda, definem claramente os vencedores, com o toque romântico do casal reunido, o amor também venceu. Uma variação de soluções semelhantes já utilizadas e ao gosto de Hollywood, mas que ficou muito bem colocada em Django Livre, (Unchained), Django desacorrentado. (Arnaldo Prado Junior)
ESTREIAS DA SEMANA
“O Porto” de Aki Kaurismaki
“O Lado Bom da Vida” com Jennifer Lawrence e Robert De Niro
“Caça aos Gangsters” com Sean Penn
“Inatividade Parnormal”
"Os Miseráveis"
AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira: Dia 04/02, em parceria com a ACCPA, será exibido o filme “A Grande Testemunha” de Robert Bresson, considerado um dos maiores filmes deste grande cineasta (realizador de “Mouchette” e “Pickpocket”). O filme será exibido às 19 h, entrada franca e debate após a exibição com críticos da ACCPA.
*Cine Olympia : Encerrando a mostra em homenagem ao cineasta Orson Welless, hoje será exibido o filme “A Marca da Maldade”, realizado em 1957. Sessão às 18:30 h com entrada franca. Na sessão cinemateca, hoje, às 16h, será exibido “Estamos Todos Bem” de Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso) com grande atuação de Marcelo Mastroianni. De 05 à 17/02, o Cinema Olympia exibirá uma mostra de filmes de Guerra com grandes clássicos como “A Grande Ilusão” de Jean Renoir, “Um Punhado de Bravos” de Raoul Walsh e “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo.
*Cine Líbero Luxardo: Dia 03/02 é o último dia de exibição de “Moonrise Kingdom” de Wes Anderson. No filme, um casal pré-adolescente se apaixona e foge para uma floresta, levando a comunidade toda à loucura por sua busca. No elenco, Bruce Willis, Edward Norton e Bill Murray. O filme será exibido às 17h e 19h.
*Cine Estação : “O Porto” de Aki Kaurismaki, estreia neste domingo (dia 03) com matinal às 10h e sessões às 18h e 20h30. O filme mostra um horizonte peculiar sobre a vida dos imigrantes ilegais na Europa mostrando a história de um menino africano que chega numa cidade portuária e, nesta situação, seus habitantes precisam ter compaixão para que possam entender o universo dos estrangeiros em uma nova terra.
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